MERCADOS FINANCEIROS

Praça do Comércio

O índice do medo e da ganância (acima) está nuns neutros 48% quando na semana passada estava nos 53%, portanto os mercados andam um pouco mais calmos ultimamente.

Será a calmaria antes da tempestade ou a bonança após a travessia do cabo da boa esperança?

Difícil dizer. Vamos primeiro aos factos:

• A inflação voltou a aumentar em Portugal, no mês de maio superou os 3%;

• O nosso PIB voltou a abrandar, crescendo apenas 1,5% no primeiro trimestre deste ano.

Apesar do abrandamento da nossa produtividade e do aumento dos preços, o nosso velho amigo Mário Centeno acredita que o BCE continua a ter condições para reduzir as taxas de juro. Talvez isto explique a recente série de ganhos do PSI - a nossa economia tem sido resiliente e a possibilidade de cortes nos juros europeus indicam que estamos a chegar à bonança.

Quem continua a atacar é o fundo americano KKR, que já detém 78,9% da renovável Greenvolt, e é agora obrigado a fazer uma Oferta Pública de Aquisição à restante fatia da empresa.

Quer faça sol ou faça chuva, tubarões são tubarões.

ECONOMIA

Quem lucra com a guerra?

Volodymyr Zelensky esteve recentemente em Portugal, onde aproveitou a sua fugaz visita para assinar um acordo de colaboração bilateral entre a Ucrânia e o nosso país. Tal como nós prevemos na nossa edição de Ano Novo, a ajuda financeira  à Ucrânia é um dos grandes tópicos de discussão económica na União Europeia em 2024. 

Há gostos para tudo. Enquanto alguns defendem que não devemos mandar ajuda militar ao país invadido, citando uma escalada militar; há quem ache que não bastam as ajudas já entregues, e que deveríamos seguir todos para o leste da Europa com uma AK-47 ao ombro e uma faca nos dentes.

Não iremos tecer juízos de valor sobre este assunto. No entanto, isto gerou curiosidade da parte do nosso estagiário: Em que consistem as ajudas militares? E será que estas contribuem ou prejudicam as economias dos países envolvidos?

Desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022, os EUA são os maiores contribuintes com ajuda governamental à Ucrânia (em valor nominal). 

No entanto, os EUA não passam simplesmente um cheque à ordem de Volodymyr Zelensky.

Para começar, nem todo o “bolo” é entregue à Ucrânia. Uma grande fatia  serve para financiar atividades relacionadas com a guerra, e uma pequena parte tem como finalidade ajudar outros países vizinhos. Do restante, parte é ajuda humanitária, mas a maior fatia destina-se ao fornecimento de armas e equipamento militar. 

E este equipamento não é comprado na Amazon; é praticamente tudo produzido nos EUA. Há estudos que indicam que cerca de 90% do apoio financeiro traduz-se em investimento interno. O apoio militar dinamiza a economia de, pelo menos, 38 estados norte-americanos, criando e mantendo postos de trabalho. 

A União Europeia está a operar de forma similar, mas com mais ênfase na ajuda humanitária. Dos 107 mil milhões já entregues, “apenas” 35 mil milhões são efetivamente de foro militar (defesas antiaéreas, jatos militares, tanques e munições, mas também treino militar, e incentivos à capacitação das indústrias militares europeias). Os restante milhares de milhões destinam-se à ajuda aos refugiados ucranianos, a outras atividades de solidariedade, à assistência  médica e humanitária e à reconstrução da Ucrânia.

Portanto, fora quaisquer  considerações éticas ou morais (válidas), a entrega de ajuda e a indústria militar contribui para o sucesso das nossas economias. Não só isso, mas contribuem para enfraquecer a economia da Rússia (!) - já temos drones made in Portugal a fazer estragos por lá. 

Mas claro, tudo em moderação. O esforço militar não deve sobrepor-se aos outros deveres do Estado, sob pena de nos tornarmos uma economia militar, para onde a economia russa já caminha a passos largos.

P.S. Para limpar o palato, fica com um vídeo do secretário de estado dos EUA, Antony Blinken a tocar guitarra num bar em Kiev.

A ACONTECER
Limpeza à Portuguesa

Uma startup portuguesa especializada em serviços domésticos e com uma base de 300 mil clientes e 12 mil técnicos, a empresa tem revolucionado o mercado com a sua eficiência e nitidez (trocadilho não intencional). 

Oscar, fundada há 3 anos, pode ser descrito como o Usain Bolt das limpezas: funciona por meio de uma aplicação, oferece uma gama de serviços domésticos, desde canalizadores a esteticistas, com atendimento em 30 minutos, já triplicou o seu volume de negócios e faturou mais de 7 milhões de euros, tendo recentemente  captado seis milhões de euros para expandir os seus serviços domésticos na Europa.

Com este financiamento, a startup pretende consolidar a presença em Portugal e Espanha, bem como iniciar uma  “limpeza” aos  novos mercados europeus ao tornar-se a aplicação número um de serviços para casa na Europa.  Parece que aquela mancha chata da janela da sala finalmente irá cair!

As letras pequenas nos contratos: Veni, Vidi, Vi(n)ci!

Como escrevemos na semana passada, o contrato de concessão do Aeroporto Humberto Delgado (AHD) é o principal factor limitante à construção do novo aeroporto de Lisboa… mas porquê?

Vejamos os detalhes do contrato de concessão com a ANA, detida pela francesa Vinci:

• A ANA tem 6 meses para fazer um relatório preliminar sobre a construção do novo aeroporto, incluindo especificações, duração, custos e financiamento;

• Após o relatório preliminar a ANA tem 36 meses para apresentar a sua candidatura;

• O Governo terá então 90 dias para tomar uma decisão, que sendo positiva resultará em 12 meses de negociação;

• Os custos e o financiamento serão os principais pontos de discórdia - a CTI estima 6105 milhões de euros e a ANA estima 8000 milhões… a CTI estima que as taxas aeroportuárias cobradas pela ANA (muito lucrativas) são suficientes para o financiamento, mas a ANA discorda.

Este contrato é controverso há muito tempo, com o Tribunal de Contas a defender que o contrato pende muito a favor do privado. Não será por acaso que a ANA detinha 3 aeroportos aquando da concessão do AHD e agora tem 73. 

Como dizem os bifes, o diabo está nos detalhes.

OpenAI passa a ser ClosedAI?

A corrida à supremacia na Inteligência Artificial é marcada por jogadas arriscadas, muitas vezes resultando em desastres. Que o diga a Google, que andou a remover manualmente as respostas bizarras da sua nova implementação de IA no motor de busca. 

Mas o exemplo mais visível foi o Coup d'état que afastou Sam Altman da liderança da OpenAI… durante 4 dias. Agora, uma das executivas envolvidas no incidente veio a público dizer que Altman criou uma atmosfera tóxica com abusos psicológicos e que apenas o medo de retaliação de Altman fez com que os empregados da OpenAI defendessem o seu regresso. 

O debate à volta da filosofia do risco na IA continua aceso - com ex-executivas da OpenAI a afirmar que empresas de IA não se podem regular sozinhas e com atuais executivos da OpenAI a usufruir do direito de resposta para contrariar essas afirmações.

A OpenAI, cuja equipa de segurança de IA colapsou recentemente, tem uma nova equipa de segurança. O líder da equipa é o próprio Sam Altman.

Sobre as tuas finanças pessoais…

A dança das propostas… O Governo está decidido em alterar as regras do IRS Jovem. O novo executivo pretende eliminar a isenção fiscal* no primeiro ano, e alargar as taxas de imposto reduzidas até 15% por um período máximo de 19 anos, abrangendo jovens trabalhadores dos 16 aos 35 anos. Ou seja, pagas mais nos primeiros anos, mas tens mais tempo para beneficiar do regime. Este novo regime não exige a conclusão de um curso superior e é aplicável desde o início da atividade profissional. Os atuais beneficiários do IRS Jovem podem optar por continuar a beneficiar das regras antigas. Esta nova proposta está pendente de aprovação parlamentar.

… ou: o que tu fazes, eu faço igual mas diferente - o Governo aprovou em Conselho de Ministros novas medidas para combater a crise na habitação, que incluem a revogação do arrendamento coercivo, a injeção de imóveis devolutos do Estado no mercado (que ficará a cargo das autarquias), o alargamento das possibilidades de reinvestimento de mais-valias imobiliárias, incentivos à mobilidade laboral, ajustes no apoio extraordinário às rendas e a eliminação da contribuição extraordinária sobre o Alojamento Local. Estas propostas serão agora apresentadas ao parlamento.

Rapidinhas

A escalada do preço das laranjas está a gerar uma crise entre os produtores de sumo. Estes já estão a considerar fazer sumo com outros citrinos.

O MBWay vai passar a funcionar sem existir um cartão bancário associado, e também os limites das transferências irão aumentar - resposta da SIBS ao lançamento do SPIN pelo Banco de Portugal?

49% dos portugueses estão preocupados com o seu futuro financeiro, segundo dados da Statista.

A geração Z está a chegar a posições de liderança, e a introduzir mudanças. Os Gen Z's apostam na eliminação de reuniões inúteis, na flexibilidade de horários e no equilíbrio entre o trabalho e a vida social.

O FMI estima que a economia da China irá crescer 5% este ano.

A xAI, uma startup na área da inteligência artificial, fundada por Elon Musk recebeu 6 mil milhões de dólares numa ronda de  investimento.

NAUTA DA SEMANA
UA dá luz a quem tem vidros

A Universidade de Aveiro (UA), juntamente com o Instituto Superior Técnico e a empresa Lightenjin, desenvolveram um vidro capaz de gerar eletricidade a partir da luz solar ou iluminação artificial, promovendo a sustentabilidade energética dos edifícios. Liderado pela investigadora Rute Ferreira, do Departamento de Física e do CICECO, o projeto resultou numa janela que também funciona como sensor de temperatura óptica.

Que vidro é este e como posso limpá-lo?

O vidro capta luz solar ultravioleta e converte-a em radiação visível, guiada até células fotovoltaicas na caixilharia. Além de gerar eletricidade, atua como sensor de temperatura, sendo capaz de operar com luz solar ou com iluminação artificial, garantindo energia contínua. Para limpá-lo, será melhor falares com a Oscar.

Por que estamos a destacar este projeto?

Pode alimentar dispositivos de baixo consumo e integrar dados de temperatura em sistemas de automação residencial, e aumentar a eficiência energética dos edifícios. Os investigadores veem potencial para aplicações aeroespaciais, aumentando a eficiência dos conversores fotovoltaicos em satélites e reduzindo custos energéticos. Circula um rumor não oficioso (ouvido em coscuvilhice pelo jardineiro), que esta pegada ecológica permitirá à Taylor Swift realizar um voo extra até à ilha da Madeira e atuar na abertura do festival do Atlântico. 

RECOMENDAÇÃO

Academia do Empreendedorismo

Uma das razões para a existência da nauta é o fomento do empreendedorismo. Queremos que as nossas gerações criem mais riqueza para si e para o nosso país e, porque deter uma empresa de exploração de aeroportos não é para todos, a nossa recomendação da semana é algo bem mais simples: um curso online!

A Academia de Empreendedorismo é um curso da Universidade NOVA de Lisboa, disponível na plataforma edX, onde aprenderás como desenvolver um projeto inovador e competências de gestão. É totalmente gratuito e aberto a qualquer pessoa (o certificado fica nos 51 euros, infelizmente).

ABC DO DINHEIRO
Isenção fiscal