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Que Comecem as Guerras do Vinho
4 de Maio de 2024
Bom dia, coisinha sexy!
Hoje é 4 de maio, o Dia de Star Wars… sabias que a primeira utilização registada da frase que define este dia (May the Fourth be with you) foi obra do partido Conservador do Reino Unido após a eleição de Margaret Tatcher?
É caso para dizer: The Empire Strikes Back!
Nesta semana escrevemos sobre o trabalho em Portugal, sobre a coscuvilhice no escritório e sobre as Guerras do Vinho.
Tempo estimado de leitura: 17 minutos.
Vamos lá!
PSI -0,38% | STOXX600 0,10% | S&P500 0,32% | NASDAQ 1,24% |
EUR/USD 0,53% | GOLD -1,25% | OIL -6,24% | BITCOIN -1,59% |
AAPL 5,76% | DJT 8,57% | GALP -4,45% | EGL -5,10% |
MERCADOS FINANCEIROS
Praça do Comércio
Nesta semana os mercados acalmaram um pouco e as coisas parecem estar mais normais… isto é, o nosso PSI (índice da bolsa portuguesa) está vermelhinho enquanto os seus congéneres europeus e americanos mostram ganhos modestos, apesar da Reserva Federal sinalizar que os juros continuarão altos durante mais uns tempos.
O caos continua a preocupar os investidores (o nauta-ómetro marca 40%: medo). Aliás, alguns investidores estão a evitar as bolsas americanas, que tiveram em abril o pior mês desde setembro do ano passado, enquanto procuram portos mais rentáveis e seguros… como as bolsas europeias. Também as empresas americanas investem na Europa, com a Apple a roubar peritos em Inteligência Artificial à OpenAI e a abrir um laboratório “secreto” em Zurique.
Esta moda temporária de investimento americano na Europa vem contrariar a tendência dos últimos anos, caracterizada pela queda de investimentos estrangeiros na União Europeia e em Portugal. Não obstante, Portugal é o 7.º país europeu com mais projetos de investimento estrangeiro direto.
A Galp reforça a aposta na Namíbia (à qual demos especial destaque na edição da semana passada). A empresa, que valorizou 23,58% no último mês, está a hesitar no que diz respeito à transição energética.
Para além de se queixar do lento licenciamento dos projetos de energias renováveis, a Galp abandonou o grande consórcio das baterias de lítio do PRR. A já controversa Agenda CVB (Cadeia de Valor das Baterias em Portugal) poderá perfazer 914 milhões em investimento, porém a “retirada” da Galp foi tática:
A Aurora Lithium, consórcio que junta a Galp e o unicórnio sueco Northvolt, não conseguiria cumprir o prazo de entrada em operação no ano de 2026, pelo que para evitar sarilhos fiscais a Galp decidiu procurar outros investimentos (menos exigentes) para o projeto.
ECONOMIA
Não é para trabalhar, é para ir trabalhando…
No dia 1 dia maio celebrou-se o Dia do Trabalhador. Passaram-se 50 anos depois do 1.º de maio de 1974, no qual uma enorme manifestação popular de apoio à então recente revolução de 25 de abril ajudou a consolidar a democracia em Portugal. Depois de meio século de liberdade, de 24 governos eleitos, e mais sindicatos do que os possas contar, qual o atual retrato do emprego em Portugal? Vamos lá:
Portugal é o 5.º país da UE com mais trabalhadores a trabalhar mais do que deviam: cerca de 9% dos portugueses fazem longos horários de trabalho, que correspondem a 49 horas semanais ou mais. Isto é mais comum nos trabalhadores por conta própria.
Portugal tem uma população ativa cada vez mais envelhecida. Cerca de metade dos trabalhadores portugueses têm entre 44 e 64 anos. O nosso país é o 2.º país da UE com menos percentagem de jovens trabalhadores.
O salário médio em Portugal é o 5.º mais baixo da UE, em paridade do poder de compra. E ainda que tenha sofrido o maior aumento de sempre (60 euros) em 2023, o salário mínimo em Portugal baixou para a 11.ª posição no ranking da UE.
44% dos empregadores no nosso país têm apenas até ao 9.º ano de escolaridade. Mesmo assim, isto ainda é uma evolução, pois há 10 anos eram 60%. Já os CEOs das empresas do PSI ganham 32 vezes mais que os seus trabalhadores.
Mas não são só más notícias: o desemprego está a baixar, e está a aproximar-se da média da UE.
NO ESCRITÓRIO
Bilhardice: pura intriga ou produtiva?
“Ouviste dizer que o Fernando Mendes foi apanhado a ler a nauta enquanto escolhia os novos concorrentes para o programa?”
A bilhardice (ou coscuvilhice, para os nossos leitores não-madeirenses), consome cerca de 52 minutos das nossas conversas diárias, de acordo com um estudo por Megan Robbins e Alexander Karan da Universidade da Califórnia. É uma prática pervasiva nos locais de trabalho, muitas vezes sinalizando sussurros iminentes com vozes baixas e olhares teatrais.
Mas por que é que praticamos a bilhardice? Psicólogos evolucionistas sugerem que não é apenas para entretenimento, mas para reforçar normas sociais, de forma semelhante à praticada pelos nossos antepassados caçadores-recoletores.
No entanto, existem desvantagens. A bilhardice pode espalhar falsidades e danificar reputações, levando a problemas legais; e o rótulo de bilhardeir@ pode prejudicar a tua carreira.
Apesar dos seus inconvenientes, erradicar completamente a bilhardice é impraticável, e pode privar as organizações de um mecanismo vital de auto-regulação. Em vez disso, abordar questões subjacentes como incerteza e insatisfação por meio de uma gestão eficaz pode ajudar a reduzir a bilhardice excessiva.
A ACONTECER
SOS Vinho: Portugal declara guerra ao dilúvio de importações 🍷
Portugal “declarou guerra” ao excesso de vinho importado, gerado pela falta de controlo na comercialização dos mesmos.
A importação de vinho tem crescido 83 milhões de litros por ano desde 2019 e contribuído para a acumulação de stocks, que nem a nação com uma dependência de álcool que aumentou quase 50% na última década, consegue tomar conta (somos até líderes mundiais no consumo de vinho per capita). Os produtores clamam por transparência, especialmente na restauração, onde até 60% do vinho servido pode ser importado.
Enquanto as exportações diminuíram e os preços aumentaram em 2023, umas das propostas em estudo é a de indicar a origem do vinho nas cartas dos restaurantes, seguindo o modelo francês. Já existem debates sobre cortes nos apoios à plantação de novas vinhas e a criação de um “Observatório do Mercado” para fornecer dados precisos sobre preços e procura. Não queremos é que o vinho seja mais uma dor de cabeça, a não ser a aquela matinal, após consumires demasiado. 🥴
Quem se portar mal fica de castigo 🇪🇺
Na passada terça-feira (30 de abril) entraram em vigor novas regras orçamentais na União Europeia. Estas novas regras de bom comportamento mantêm o teto de dívida pública em 60% do PIB e do défice em 3%, mas introduzem uma maior flexibilidade e margem para negociação entre o encarregados de educação (UE) e os alunos (estados-membro).
O objetivo é estabilizar o endividamento descontrolado e garantir a sustentabilidade das economias europeias. Portugal já vai ter de cumprir este ano as novas diretrizes orçamentais. A dívida pública portuguesa, apesar das reduções recentes, ainda está acima dos 90% do PIB. Como tal, o país irá apresentar à Comissão Europeia um Plano de Estabilidade para os próximos 4 anos. Ainda assim, o superávit registado nas contas públicas dá-nos alguma margem de manobra.
Rapidinhas
A natalidade em Portugal aumentou em 2023. No ano passado nasceram 2,8% mais bebés que em 2022.
Há cada vez mais famílias a recuperar sótãos para arrendar, face à atual crise na habitação
Sabes aquele teu amigo que não arreda pé da faculdade? Frederico Catarino, um estudante da Faculdade de Arquitectura do Porto, está a levar isso demasiado a sério. Como projeto de tese, Frederico montou uma tenda e está a viver no jardim da sua faculdade.
A UE esgotou os seus recursos para 2024 no dia 3 de maio.
A Cognitive Labs, uma startup americana com apenas 6 meses, está já avaliada em 2 mil milhões de euros. É responsável pelo desenvolvimento da IA generativa Devin.
A Geração Z está a acumular riqueza de forma sem precedentes. Já existem mais “Zoomers” que baby-boomers a trabalhar a tempo inteiro.
Joshua Dean é o segundo “whistleblower” da Boeing a morrer de forma súbita.
Elon Musk recebeu elogios inesperados na sua recente visita à China. O primeiro-ministro chinês elogiou a Tesla como um “modelo de sucesso” na colaboração entre a China e os EUA.
NAUTA DA SEMANA
Valvian
A Valvian é uma nova empresa de biotecnologia liderada por Nuno Prego Ramos, que pretende transformar Portugal num centro de excelência em biotecnologia a nível global. A empresa foi criada com o capital proveniente da venda direitos anticorpos da CellmAbs à BioNTech e tem como objetivo revolucionar o desenvolvimento de terapias para doenças crónicas e cancros sem cura conhecida, bem como desenvolver terapias inovadoras em estágio pré-clínico e tecnologias para a descoberta de novos alvos terapêuticos com recurso à inteligência artificial.
Porquê recorrer à IA?
A Valvian considera a inteligência artificial como um elemento crucial para sua abordagem inovadora, vislumbrando avanços substanciais nos próximos anos. Com uma atuação que abrange pesquisa, desenvolvimento, produção e aplicação clínica, a empresa está em busca de parcerias em todo o território nacional. O objetivo ambicioso é tornar-se líder em biotecnologia em Portugal, atraindo talento e investimento internacional para fortalecer a economia nacional e avançar na área das ciências da vida, contribuindo para posicionar Portugal como um centro global de inovação em saúde.
RECOMENDAÇÃO
Como fazer conversa para encher chouriços?
Qual é a experiência mais universal do mundo do trabalho?
Conversa para encher chouriços! Sejas camionista, homem (ou mulher) do lixo, presidente da república, caixa de supermercado, CEO… é impossível escapares à conversa de palha. E apostamos que não é incomum ficares sem nada para dizer e sentires o mais puro dos constrangimentos!
Mas não te preocupes, a recomendação desta semana é um artigo de opinião no Financial Times, precisamente para essa situação.
Mas deixamos aqui as principais dicas:
Ninguém nota as tuas inseguranças, estão todos mais focados nas suas;
Somos todos awkward… alguns melhores em conversa de dia-a-dia, mas eventualmente somos todos um pouco awkward e todos sabemos isso;
Ter uma piada à mão ajuda sempre, como uma muleta para as conversas de encher chouriços!
ABC DO DINHEIRO
Startup
Na edição passada raspamos na questão: o que realmente é uma startup?
Não, não é uma empresa de software (embora a maioria das startups o seja). E também não é uma empresa de tecnologia avançada…
Então o que é uma startup? É uma jovem empresa que procura desenvolver, validar e escalar um modelo de negócios inédito. Ou seja, uma startup é um projeto que procura criar um produto ou serviço capaz de satisfazer uma necessidade num mercado com grande potencial de crescimento (escalável).
Um restaurante italiano cujos cozinheiros sejam robots não é uma startup porque o modelo de negócios está provado há milénios. Mas a McDonald’s, por exemplo, já foi uma startup.
Também a Ford já foi uma startup pois quando foi fundada ninguém acreditava num automóvel para o povo. Nas palavras de Henry Ford: “Se eu tivesse perguntado às pessoas o que elas queriam, elas teriam dito cavalos mais rápidos.”
Na despedida desta semana queremos agradecer-te a ti! Crescemos 28% em abril! Não seria possível sem o teu apoio, seja através das leituras, do feedback, das partilhas das redes sociais e tudo mais, muito obrigado. Que a Força esteja contigo, coisinha sexy!
Qualquer feedback construtivo é muito bem vindo em [email protected]!
Memes
As cotações apresentam os resultados semanais dos ativos referenciados. As quatro primeiras são índices que combinam os desempenhos de conjuntos de empresas. O PSI é o índice português, o STOXX600 é o índice das 600 maiores empresas europeias, o S&P500 e o NASDAQ são ambos dos EUA. As seguintes quatro são mercadorias e moedas. EUR/USD é o câmbio entre o euro e o dólar americano, gold é ouro, oil é petróleo bruto e bitcoin é a mais popular criptomoeda (em euros).
As quatro últimas são ações de empresas que tiveram desempenhos notáveis durante a semana. Nesta semana temos AAPL para a Apple, DJT para a Trump Media & Technology Group, GALP para a Galp e EGL para a Mota-Engil.
A nauta é um boletim informativo semanal sobre a atualidade económica, financeira e empresarial, escrita em língua portuguesa. Não é jornalismo nem consultoria financeira, mas uma oportunidade para aprofundares os teus conhecimentos nestes temas e acompanhares o essencial do mundo dos negócios e mercados financeiros.
Escrita por João Ornelas Raínho, Mário de Pinto Balsemão e Nuno Martins.