MERCADOS FINANCEIROS

Praça do Comércio

Uff… a 2% do medo extremo nos mercados… não é coisa boa.

A semana até estava a correr relativamente bem. A Reserva Federal dos EUA sinalizou o primeiro corte de juros desde 2020, quando o mundo acabou. Os mercados rugiram em euforia. Ao mesmo, o Banco de Inglaterra cortou os juros de máximos de 16 anos, naquela que foi uma decisão renhida.

Apesar das boas notícias, sexta-feira foi dia de correção. As ações tecnológicas americanas foram vendidas em massa e a indústria dos semicondutores foi particularmente afetada. A título de exemplo a Intel desvalorizou 27,06% na sexta-feira, o seu pior dia desde 1974.

A onda vermelha foi internacional. A Bolsa de Tóquio perdeu 6%, o STOXX Europe 600 perdeu 2,73% e o S&P500 1,84%.

O que aconteceu? Bem, os investidores começaram a contemplar o caos. Literalmente: o índice VIX - que mede a incerteza e a volatilidade nos mercados - disparou.

Com a economia mundial a soluçar após os juros históricos e o aumento da instabilidade geopolítica, o catalisador desta venda foi o facto de que a Inteligência Artifical não é, pelo menos por agora, tão revolucionária quanto o esperado. O hype não está a corresponder a mais retornos para as empresas tecnológicas.

Os resultados semestrais da Amazon e da Google mostram que ainda há um longo caminho a percorrer nos modelos de negócios das atuais arquitecturas de IA e, como tal, a Nvidia e a Intel (as fábricas da infraesturura da IA), sofreram as consequências.

A Nvidia já desvalorizou 20% desde o seu máximo histórico de junho e a Intel, histórica da indústria dos EUA, planeia despedir cerca de 15% do seu pessoal.

Para contrastar, Donald Trump planeia tornar os EUA a capital mundial das criptomoedas (apesar de Miguel Albuquerque ter essa ideia primeiro). Ao que parece, Trump terá adorado os seus NFTs, que o convenceram do grande valor das criptomoedas.

EMPRESAS

Os mafiosos de Silicon Valley

Dizem as nossas mães que isto é só bandidos, e é verdade. Eis a Máfia do PayPal – mais poderosa do que Camorra, ‘Ndrangheta e o Cartel Sinaloa… e muito mais influente.

Em dezembro de 1998 um grupo de cromos juntou-se para fundar a Fieldlink. Não conheces? Pois, nós também não. A Fieldlink tornou-se Confinity, uma empresa que desenvolvia software de segurança para dispositivos móveis… a bolha do dot-com estava ainda para vir!

Porque, naquela altura, ninguém estava preocupado com a segurança do seu calhamaço com antena, o modelo de negócios nunca pegou. Então fizeram o que todas as startups falhadas tentam fazer – pivot.

A Confinity lançou em 1999 um sistema de pagamentos eletrónicos, o PayPal. E, como todos sabemos, o pivot resultou.

O PayPal foi pioneiro em múltiplas frentes:

• Viralidade – os utilizadores podiam enviar dinheiro a qualquer pessoa, que seria então obrigada a aceder para usufruir do dinheiro recebido;

• Plataforma – foi das primeiras “aplicações”, uma app por cima do eBay;

• Widget – bastante visível, por exemplo no eBay, facilitando pagamentos;

• Atualizações constantes – em vez de ciclos de produção pre-determinados.

Portanto, dados os factos, pode afirmar-se que os indivíduos da Confinity sabiam o que faziam. Mas a história não fica por aqui – em março de 2000, a Confinity fundiu-se com o banco online X.com. Faz lembrar alguma coisa? Pois, é só a segunda empresa de Elon Musk.

Eventualmente, Elon Musk, então CEO da fusão, foi substituido por Peter Thiel (um dos membros originais da Confinity). Depois do golpe, o X.com tornou-se PayPal e foi a IPO em 2002. Pouco depois foi adquirido pelo eBay, pelas razões mencionadas acima, por 1,5 mil milhões de dólares.

A maioria das pessoas ficaria satisfeita com este ganha pão, mas a Máfia do PayPal não!

Com uma net worth* total acima das receitas das máfias mencionadas acima, estes são alguns dos membros da chamada Máfia do PayPal (que poderá até ter um filme em breve):

• Jawed Karim: desenhou o sistema anti-fraude do PayPal, fundou o Youtube com Chad Hurley e Steve Chen – net worth de 300 milhões de dólares;

• Chad Hurley: um dos primeiros trabalhadores do PayPal, fundou o Youtube – net worth de 700 milhões de dólares;

• Reid Hoffman: passou do PayPal para o LinkedIn, investidor de empresas como Facebook e Airbnb – net worth de 2500 milhões de dólares;

• Jeremy Stoppelman: engenheiro no PayPal, fundou a Yelp - net worth de 317 milhões de dólares;

• Peter Thiel: CEO da PayPal, investiu no Facebook, fundou o Founders Fund e a Palantir e apoia Donald Trump desde pequenino – net worth de 11 mil milhões de dólares;

• Elon Musk: ver edição da semana passada – net worth de 270 mil milhões de dólares!

PayPal, Youtube, LinkedIn, Facebook, Airbnb e Tesla… Este grupo de cromos criou parte do mundo moderno. E tudo começou com um modelo de negócios falhado. Ainda dominam o Vale do Silicone e pior, apesar das divisões e facções – Reid Hoffman apoia os Democratas e Peter Thiel e Elon Musk apoiam Donald Trump - têm as patas metidas na política da maior superpotência do planeta.

Ao pé deles, o que são as máfias deste mundo?

A ACONTECER
Um ponto de viragem

Paris 2024 pode vir a ser um sucesso financeiro, contrariando exemplos passados.

Na semana passada falámos de como os Jogos Olímpicos muitas vezes acabam por ser um fardo para as cidades organizadoras. Algumas edições passadas dos JO acabaram mesmo em prejuízo. 

Embora seja difícil, de momento, prever qual o impacto económico de Paris 2024, podemos analisar algumas das formas que a capital francesa e o Comité Olímpico Internacional (COI) usaram para tornar estes JO num evento rentável:

• O orçamento de Paris para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2024 provém quase na totalidade (96%) do sector privado, do COI, de empresas parceiras, da bilheteira dos jogos e do licenciamento; 

• 95% dos recintos utilizados já existiam ou são temporários e desmontáveis;

• Algumas das provas foram realizadas fora de Paris (por exemplo as provas de surf foram realizadas na Polinésia Francesa);

• As residências olímpicas foram construídas de propósito para o evento, mas irão ser realocadas em áreas residenciais e escritórios;

• As medalhas olímpicas têm uma percentagem de ouro insignificante - apenas 1,3 do peso total. No entanto, não deixam de ser valiosas, pois contêm uma peça de ferro da estrutura original da Torre Eiffel. Estas peças foram retiradas da icónica torre durante vários projetos de renovação e modernização ao longo dos anos.

Paris utilizou alguns marcos emblemáticos para acolher as competições: voleibol sob a Torre Eiffel, hipismo e pentatlo no Palácio de Versalhes, e estádios existentes, como o Roland Garros para o ténis e o estádio nacional de futebol Stade de France. A capital francesa definitivamente aprendeu com a história.

O Estado da Nação

Recentemente, foram dados a conhecer importantes dados económicos sobre Portugal.

Começamos pelas más notícias. A economia portuguesa precisa de crescer mais de 2,5% no resto do ano para atingir a meta do Governo. Para isto acontecer, o PIB tem de avançar a uma média de 0,8% no terceiro e quarto trimestres. Fica cada vez mais difícil atingir a meta de 2% de crescimento do PIB para 2024.

A dívida pública nacional subiu para 101,5% do PIB, atingindo os 278 mil milhões de euros, segundo os dados do Banco de Portugal. No entanto, a Comissão Europeia continua crente que o peso da dívida pública portuguesa pode recuar para 77% do PIB até 2034.

Agora, o menos mal. Até junho, o Estado registou um défice de 2.731 milhões de euros, o que se traduz numa diminuição de 7.574,5 milhões de euros face ao período homólogo.

O que continua em alta é o turismo - No ano passado, este setor atingiu máximos históricos e contribuiu para metade do crescimento do PIB no valor de 33,8 mil milhões de euros, o correspondente a 12,7%.

Mas os portugueses estão em baixa. Segundo dados do Eurostat, o poder de compra do salário mínimo em Portugal é dos mais baixos da Zona Euro, apenas acima dos trabalhadores da Letónia, Estónia, Eslováquia e Malta.

E enquanto os turistas entram, os portugueses saem. As Nações Unidas estimam que existam 2,1 milhões de emigrantes portugueses, ou seja, 20% da população nascida em Portugal vive fora do país. A França é o país que acolhe o maior número de emigrantes, contando cerca de 600 mil em 2021, seguindo-se a Suíça, Reino Unido, EUA e Canadá.

O Observatório da Emigração estima que, em média, entre 2001 e 2020, 75 mil portugueses tenham emigrado por ano. No entanto, neste mesmo período, mais de um terço das saídas foram compensadas por retornos de cidadãos portugueses. Esta taxa de emigração é apenas ultrapassada por países com um PIB per capita maioritariamente inferior, como a Croácia, Bulgária e Lituânia.

Considerando as saídas mais recentes, a geração Z (1995-2009) é a que apresenta a maior propensão para emigrar. Segundo o INE, 48% dos emigrantes saídos em 2021 tinham completado o ensino superior.   

Rapidinhas

A partir desta quinta-feira, os jovens já podem comprar casa sem pagar IMT.

Os certificados de aforro e do Tesouro vão mudar. Desde o final do ano passado que as famílias têm vindo a tirar dinheiro dos certificados e o Governo quer torná-los mais atrativos.

O prémio salarial de valorização das qualificações já começou a ser pago. Consulta a app Situação Fiscal – secção Reembolsos, para saberes se vais receber.

A Digi, operadora romena, comprou a Nowo num negócio de 150 milhões e fica agora com a porta aberta para oferecer um serviço completo de TV e internet fixa em Portugal.

A “maioria” das empresas da Zona Franca da Madeira está “insolvente ou sem capacidade” para pagar os apoios ilegais recebidos em 2020. A notificação destas empresas resulta de uma investigação levada a cabo pela Comissão Europeia. 

Esta segunda-feira entrou oficialmente em vigor o Orçamento Regional da Madeira para 2024.

Esta terça-feira, a associação ambientalista Zero divulgou que a Refinaria de Sines (Galp) lidera o top 10 de poluidores em Portugal, com cerca de 2,4 milhões de toneladas de dióxido de carbono emitido.

Mbappé vai comprar 80% das ações do Caen, um clube de futebol francês da Ligue 2, num negócio de 20 milhões de euros.

NAUTA DA SEMANA
Oceano Fresco

A Oceano Fresco, uma startup com um crescimento tão grande como as ondas da Nazaré, especializada na produção sustentável de amêijoas e outros bivalves, arrecadou 17 milhões de euros numa ronda de financiamento. Liderada pelo Banco Português do Fomento e a Indico Capital Partners, esta injeção de capital visa apoiar a expansão comercial e capacidade de produção.

Mas afinal, o que faz a Oceano Fresco? A empresa utiliza técnicas de aquacultura para cultivar bivalves de alta qualidade, garantindo sustentabilidade e rastreabilidade. Têm como ambição tornarem-se líderes mundiais na aquicultura regenerativa de bivalves e estão a investir em novas tecnologias e instalações.

Quais são os planos futuros? Melhorar a produtividade, expandir operações e contratar mais pessoas, com a ambição de conquistar novos mercados europeus. A Oceano Fresco está pronta para fazer ondas na indústria dos bivalves!

RECOMENDAÇÃO

Rota do Tráfico com Mariana Van Zeller

Quando ouves falar em “mercado negro”, provavelmente pensas em organizações ilegais, traficantes de droga e outros personagens ainda mais sombrios. Ainda assim, o mercado negro - ou a parte da economia que está fora do controlo e regulação governamental - é um universo muito mais complexo, diverso e fascinante. 

Estreada em 2021, a série da National Geographic "Na Rota do Tráfico" segue a jornalista portuguesa Mariana Van Zeller enquanto ela explora o mundo do mercado negro.

A série aborda diversos temas, incluindo o comércio de armas, esquemas online, tráfico de drogas como cocaína, fentanil e esteroides, prostituição, dinheiro falso e tráfico de tigres. Mariana Van Zeller, que reside nos Estados Unidos, convida os espectadores a acompanhá-la nesta investigação profunda e reveladora sobre atividades ilegais.

ABC DO DINHEIRO
Net Worth