MERCADOS FINANCEIROS

Praça do Comércio

Começamos esta edição com o tema da edição anterior: CrowdStrike!

Depois de causar o Apocalipse Informático do Século (até agora), a CrowdStrike custou 5,4 mil milhões de dólares às empresas Fortune 500, maioritariamente às indústrias da saúde, do transporte aéreo e ao setor bancário. Mas quando alguém perde tanto, no mundos mercados, também há quem ganhe - os short sellers fizeram um lucro de pelo menos 461 milhões de dólares!

Incidentes históricos à parte, a economia dos EUA superou as expectativas e, quando se esperava um abrandamento que agradaria a Reserva Federal, cresceu 2,8% no segundo trimestre. Mas, com Wall Street a ter o seu pior dia desde 2022, é caso para dizer que as coisas podem estar mesmo a arrefecer…

Temporário? Talvez - a calma antes da tempestade que se adivinha à medida que se aproximam as eleições americanas!

Aliás, há até quem aposte tudo no futuro. A empresa israelita de cibersegurança Wiz, que estava para ser adquirida por 23 mil milhões pela Google, recusou a oferta (a maior de sempre da Google) em prol de uma Oferta Pública Inicial - um counter strike à CrowdStrike.

A gigante americana não afoga as mágoas, no entanto. A Google vai abrir um data center nos Açores à boleia de um cabo submarino que vai ligar a Europa aos EUA, a infraestrutura pode estender-se à ilha da Madeira. Também a nossa Nos comprou 20%, por uma quantia não divulgada, da DareData Engineering, reforçando assim a sua aposta em IA.

Com Portugal a começar a dar cartas nos Data Centers e na IA, a infraestrutura da energia está a tornar-se um fator crítico. O Porto de Aveiro concessionou dois lotes à coreana CS Wind para uma fábrica de fundações de turbinas eólicas offshore flutuantes, gerando 1000 empregos. Em escala reduzida, a Bandora, fundada em 2017, captou 1,5 milhões de euros para otimizar a gestão energética de 600 edifícios em menos de dois anos.

EMPRESAS

O (Meme)Lorde do Caos

Sim, estamos sempre a falar do caos. Agora vamos falar da mascote - Elon Musk - e do seu grande plano para meter 1 milhão de pessoas em Marte… os fãs mais acérrimos dele, esperamos nós!

Embora inicialmente com espetacular aceitação por ambientalistas, futuristas e nerds, a ascensão meteórica de Elon Musk culmina agora com uma traição às causas que o elevaram a Deus da Internet.  O seu apoio à candidatura de Donald Trump, vincado após a tentativa de assassinato, foi apenas a última machadada na reputação do homem mais rico deste planeta.

Se a Tesla é a empresa bandeira da sustentabilidade, como pode o seu CEO apoiar um homem que abandonou o Acordo de Paris?

Mas não é surpresa. Aliás, foi assim que começou a carreira de Musk: a trair causas maiores, como um doutoramento em física e ciência dos materiais na Universidade de Standford, em virtude do dinheiro (criar uma espécie de versão digital das páginas amarelas). 

Com o dinheiro da sua primeira startup (cerca de 300 milhões), fundou a sua segunda… um banco da internet que se transformou no PayPal e criou uma máfia de cromos de Silicon Valley (eventualmente terão direito a uma edição da nauta).

Com o dinheiro do PayPal fundou a SpaceX e foi um dos primeiros investidores da Tesla. O resto é história - mas convém lembrar os pormenores:

• Tanto a Tesla como a SpaceX, que o elevaram a homem mais rico, foram financiadas com dinheiro público (Administração de Barack Obama, do Partido Democrata Americano, e da NASA);

• O investimento público salvou a SpaceX (e a Tesla também);

• Musk abandonou Trump durante o seu primeiro mandato.

Porque é que Musk está a trair tudo em que acredita?

Será que é porque acredita que só Donald Trump pode salvar a democracia americana? Não, o mais provável são os preciosos cortes nos impostos e mais dinheiro público…

É que a suas empresas não estão propriamente saudáveis, de momento. A Tesla caiu 13% depois de anunciar maus resultados semestrais na quarta-feira, mesmo depois do anúncio de que o Robotaxi será revelado a 10 de Outubro. A Tesla, pela primeira vez, enfrenta competição a sério e as coisas não estão a correr bem.

Da desgraça que é o X, antigo Twitter, não vale a pena aprofundar muito, basta dizer que desvalorizou 71% desde que Musk adquiriu a rede social.

Quanto à SpaceX, a Starship, essencial para colonizar Marte mas ainda mais importante para o contrato que a SpaceX assinou com a NASA, ainda não cumpriu os objetivos traçados. E, recentemente, o Falcon 9, foguete bandeira da empresa que revolucionou a indústria, falhou pela primeira vez em 7 anos. Já está outra vez a voar, mas ilustra bem a falta de atenção do “Engenheiro Chefe”.

Mas porque quer mais dinheiro o homem mais rico do mundo?

Porque as suas empresas bebem capital intensamente e, segundo a mitologia, todas elas fazem parte do seu plano para colonizar o Planeta Vermelho:

• Boring Company para fazer buracos onde humanos poderão habitar e se movimentar (assim como toda a infraestrutura);

• X para testar como funciona um governo liderado pelos cidadãos, tipo democracia direta - se o povo for maioritariamente um conjunto de trolls a falar com bots russos e chineses;

• Os tanques Cybertruck, da Tesla, serão usados para navegar a superfície de Marte, perigosa, desértica e com radiação não negligenciável;

• As capacidades de gestão de energia da Tesla para otimizar e garantir a eletricidade da colónia, se a BYD não chegar lá primeiro;

• Foguetes para infraestrutura de transporte (mas primeiro é preciso cumprir os contratos para com a NASA e meter um foguete na Lua).

É tudo louco, visão e ficção… mas também o eram foguetes reutilizáveis e veículos elétricos e cá estamos nós. Que o louco é o Henry Ford da indústria aeroespacial, ninguém pode dizer que não. E se a Marte chegar, ficamos todos nós a ganhar.

Há muitas edições atrás escrevemos sobre o plano de Sam Altman para se tornar o rei da Terra, este é o plano de Musk para ser o rei de Marte. Venha o diabo, provavelmente Donald Trump, e escolha!

A ACONTECER
Há que aprender com a história

O impacto económico dos Jogos Olímpicos.

Os Jogos Olímpicos de Paris abriram oficialmente ontem (26/07) numa cerimónia de abertura que contou com Lady Gaga, Celine Dion, e Snoop Dogg a carregar a tocha olímpica!

A tradição quadrianual dos Jogos Olímpicos começou em 1896, num movimento liderado pelo Barão francês Pierre de Coubertin, e é inspirado nos jogos olímpicos originais que tinham lugar em Olímpia, na Grécia Antiga.

Além de serem uma celebração internacional do desporto, os Jogos Olímpicos são também uma montra para as cidades anfitriãs anunciarem a sua riqueza e sucesso ao mundo, uma prática de “sportswashing” semelhante com o verificado aquando dos campeonatos mundiais de futebol.

Mas toda esta hubris não passa ao lado dos Deuses da economia. Quando feitas as contas, a organização dos Jogos Olímpicos resulta quase sempre num prejuízo (muitas vezes avultado) para as cidades organizadoras. Há até a noção que os Jogos Olímpicos podem ser usados para prever uma quebra económica nos países onde são organizados.

E, continuando no tema da Grécia Antiga, a história das cidades organizadoras dos Jogos Olímpicos lembra a história de Ícaro - na ambição de querer chegar cada vez mais alto, chega ao ponto no qual não dá mais para subir, sem primeiro descer.

Ai AI que eles já brigam!

Há um novo player no mercado dos motores de busca.

A OpenAI juntou-se em peso ao mercado de pesquisa dominado pela Google com o lançamento seletivo do SearchGPT, um motor de busca com inteligência artificial e acesso em tempo real à internet.

Anunciado na quinta-feira (25/05), o SearchGPT também compete com o Bing da Microsoft e o Perplexity, apoiado por Jeff Bezos e Nvidia. O SearchGPT está em fase protótipo e sendo testado por um grupo restrito de utilizadores. A OpenAI planeia integrar as melhores funcionalidades do SearchGPT no ChatGPT, de modo a "estereóidizar“ ainda mais o seu ‘robot’. Ao que indica, a ferramenta oferecerá resultados de pesquisa resumidos com links para as fontes e permitirá perguntas de seguimento.

É para descer, e é já

A descida do IRS foi um dos diplomas promulgados pelo PR.

Esta terça-feira (23/07), o Presidente da República promulgou 7 diplomas da Assembleia da República, 4 dos quais da autoria do PS e que representam uma fatura de mais de 733 milhões de euros para o Orçamento do Estado para 2025 (OE2025). No âmbito da discussão do OE2025, Montenegro admitiu ajustes às medidas aprovadas, como o IRS.

A redução das taxas do IRS entre 0,25 e 1,5 pontos até ao 6º escalão (rendimentos mensais brutos de cerca de 3.100 euros) vai custar 463 milhões de euros, e vai traduzir-se numa redução anual do imposto que varia entre os 10 e os 402 euros para salários de, respetivamente, 900 e 3.000 euros brutos.

As simulações mostram que, para rendimentos mais elevados, a poupança fiscal anual será mais baixa, oscilando entre os 335 euros (para um salário de 4.000 euros) e os 267 euros (para um salário de 25.000 euros).

O Governo anunciou que as tabelas de retenção na fonte serão atualizadas já em setembro, e com efeitos retroativos.

Rapidinhas

Os bancos ainda aguardam por esclarecimentos do Governo sobre o apoio ao crédito à habitação para os jovens, que está previsto entrar em vigor a 1 de agosto.

Sete grandes empresas alteraram os recibos de vencimento para indicar o peso dos impostos e contribuições no salário bruto dos trabalhadores. A iniciativa visa alertar para a necessidade de aliviar o elevado nível de encargos sobre o trabalho.

Nos primeiros seis meses do ano, o número de inscritos nos centros de emprego aumentou 10% face ao mesmo período do ano passado. Os dados indicam que o desemprego jovem é o mais preocupante.

Há 9 medidas e investimentos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)* em risco de incumprimento, representando agora 9% do total.

Montenegro anunciou o reforço da linha de crédito Portugal-Angola em mais 500 milhões de euros, que visa criar um impulso na relação dos dois países e nas relações económicas.

Após ter adquirido em junho 10% do capital da Vista Alegre Atlantis, Cristiano Ronaldo concretizou a aquisição de 30% do capital da Vista Alegre Espanha.

O mercado da da habitação também afugenta os nómadas digitais de Lisboa, até a barraca abana!

Kamala Harris arrecadou 231 milhões de dólares em doações dos democratas em apenas um dia. Este aumento de financiamento pode ajudá-la a defender a sua posição durante a convenção nacional do partido para a sua nomeação presidencial oficial.

Valentina Bondarenko, uma importante economista russa, morreu esta terça-feira aos 82 anos depois de ter “acidentalmente” caído da janela do seu apartamento em Moscovo, juntando-se à crescente lista de “acidentes” fatais na Rússia.

NAUTA DA SEMANA
Sqill

A Sqill, uma start-up portuguesa de tecnologia, acaba de garantir 2 milhões de euros numa ronda de financiamento liderada pela GED Ventures. Fundada em 2021, a empresa tem uma missão clara: ajudar as marcas a melhorar a sua narrativa e presença nas redes sociais através de uma plataforma de criação de conteúdo disponível em Android e iOS.

Por que estão a ser destacados? 

Bem, este novo investimento vai permitir à Sqill reforçar a equipa de tecnologia, focando-se na inteligência artificial, e expandir-se para o mercado norte-americano, com um novo escritório em Austin, Texas. O CEO, Afonso Coimbra, está mais entusiasmado do que um miúdo com um brinquedo novo, reconhecendo a importância da parceria com a GED Ventures, devido à sua escala internacional e histórico de inovação.

E quais são os planos futuros? 

Conquistar o mercado dos EUA, claro! Com clientes de peso como Berg, L’Oréal e pelas Vilas-Boas do FC Porto, a Sqill está pronta para dominar o mundo das redes sociais, com uma foto e um vídeo de cada vez.

RECOMENDAÇÃO

Arriscar não tem género!

A recomendação desta semana é curta, mas não menos importante! 

As empresas detidas por mulheres sofrem frequentemente de um fenómeno chamado “desencorajamento de empréstimos”, um termo utilizado por académicos para descrever a hesitação em procurar financiamento empresarial devido à crença de que os seus pedidos serão recusados. 

Isto acontece apesar de não existirem provas de discriminação com base no género por parte das instituições financeiras. Este artigo da LSE mostra como as futuras gerações de mulheres podem ultrapassar este desafio.

ABC DO DINHEIRO
Plano de Recuperação e Resiliência