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A tua bola de cristal para o caos
20 de Julho de 2024
Bom dia!
Nesta semana escrevemos sobre o Apocalipse informático, gabamos as nossas previsões e explicamos um dos segredos da Segurança Social em Portugal.
Tempo estimado de leitura: 16 minutos.
Vamos lá!
PSI 0,24% | STOXX600 -2,32% | S&P500 -2,37% | NASDAQ -4,22% |
EUR/USD -0,073% | GOLD -0,57% | OIL -3,15% | BITCOIN 2,73% |
AAPL -5,15% | MSFT -3,61% | CRWD -17,95% | NVDA -9,84% |
MERCADOS FINANCEIROS
Praça do Comércio
Em 1999 uma conspiração prevalecia na imaginação coletiva da nossa civilização: o problema do ano 2000 ou, como ficou mais popularmente conhecida, Y2K.
Pensava-se que, dado que o software estava maioritariamente programado apenas com os últimos dígitos do ano, por exemplo 99 em vez de 1999, então com a passagem de ano os computadores iriam deixar de funcionar por causa do ano 00.
Na altura estimava-se danos entre os 400 milhões aos 600 mil milhões de dólares e até Bill Clinton, na altura Presidente dos EUA, mostrou preocupação.
Mas não era caso para tanto… o chamado bug do milénio aconteceu ontem!
Já conhecido como o maior colapso informático da história, o ecrã azul da morte começou a surgir nos computadores da Austrália à medida que o planeta transitou de quinta para sexta-feira.
O que aconteceu?
A CrowdStrike, uma empresa americana de cibersegurança fundada em 2011, tornou-se mundialmente famosa após encontrar o famoso ataque informático aos Partido Democrata dos EUA, durante as polémicas eleições de 2016. Hoje (ou melhor, até quinta-feira), a CrowdStrike serve cerca de metade das empresas no ranking Fortune 500* e vende merchandise inspirado nos grupos de hackers que combate.
No entanto, uma atualização do seu software Falcon, correu mal. Seguiu-se o fim do mundo (lá está, caos). Ao mesmo tempo, porém não relacionado, o software cloud da Microsoft começou a falhar em algumas regiões, incrementando a grande falha.
Companhias aéreas, bancos e quaisquer empresas que tenham contacto com computadores Windows com o Falcon, sentiram os efeitos (que deverão prolongar-se durante o final da semana).
A CrowdStrike, que já explicou o sucedido, tombou 11,10%. O fenómeno arrastou toda a indústria tech para baixo.
Isto, claro, depois da tentativa de assassinato a Donald Trump, e a sua respetiva sobrevivência, ter resultado em máximos históricos nos mercados.
GABAROLICE
Nauta: a tua bola de cristal?
O EURO2024 terminou e se segues a nauta no Instagram sabes que a nossa Inteligência Artificial acertou no resultado exato da final.
Aliás, acertou no resultado exato de cerca de 20% dos jogos da competição e a tendência de aproximadamente metade das partidas. Pode não parecer impressionante, mas em termos de taxa de sucesso estamos ao nível das casas de apostas!
Melhor ainda é que a nossa IA é claramente melhor a prever resultados surpreendentes (com odds mais altas para as equipas menos favoritas)... Ou seja, há potencial para lucrar!
De facto, comparando os nossos resultados com as odds das casas de apostas, se tivéssemos apostado 5 euros em todos os jogos teríamos feito um lucro de 16,5 euros.
Parece pouco? Não é! É um retorno no investimento (ROI) de cerca de 6,5%, nada mau dado que a bolsa portuguesa PSI só rendeu 5,40% desde janeiro.
OK, está provado que a capacidade de prever o futuro é lucrativa (mesmo em algo tão insignificante como jogos do Campeonato Europeu de futebol).
Mas será que a tua nauta tem capacidade de antecipar o futuro?
A nossa última edição de 2023, vestida a rigor.
Que se faça uma análise às nossas previsões para 2024 (escritas na última edição de 2023, quando tínhamos apenas 23% dos leitores que temos agora):
Vai votar, tu votas bem! Mais de metade da população mundial tinha eleições marcadas para 2024... Mas a tendência superou as expectativas, a Madeira teve eleições imprevistas e mesmo a Assembleia Nacional pode vir abaixo quando chegar à altura de aprovar o Orçamento do Estado para 2025.
Mais, as eleições da UE tiveram esta quinta-feira o seu desfecho... como prevíamos há umas semanas, o mercado integrado de capitais acabou por se tornar uma prioridade da nova Comissão Europeia, outra vez liderada por Ursula von der Leyen.
Defesa da Ucrânia - uns países apoiam, como Portugal, e outros retiram apoios, como a Alemanha. A nossa previsão foi que a União Europeia seria posta à prova no toca ao financiamento da Ucrânia. Nas prioridades da nova Comissão consta não só o apoio da Ucrânia, mas também uma União Europeia de Defesa (com um mercado único para a indústria militar) e um escudo da democracia.
As eleições mostraram que mesmo que alguns países hesitem, a Europa permanece forte na defesa da democracia.
Caos... Caos, caos e caos! É a palavra de ordem para 2024. A extrema direita francesa vence as eleições europeias? Os mercados tombam. Trump fica a uns milímetros de ser assassinado? Os mercados atingem máximos históricos. Também acertámos nesta, mas era fácil.
Regulação de IA? Embora a UE tenha avançado com as primeiras leis de regulação de IA, a verdade é que esta nossa previsão ainda não se manifestou...
A UE tem apenas uma grande startup de IA, a francesa Mistral, pelo que a regulação não tem peso na indústria. Apesar do caso do New York Times contra a OpenAI (e o estranho caso da voz de Scarlett Johansson) o debate à volta da IA ficou abaixo das nossas expectativas (o próprio Elon Musk retirou o seu processo judicial contra a OpenAI).
Se a IA marcou 2023, as falsas partidas e a baixa adoção das empresas acabaram por arrefecer a revolução (e consequentemente o debate pela regulação). A OpenAI “acabou” com a sua equipa de segurança, por exemplo.
Portanto, em 6 meses, 3 das nossas previsões mostraram-se corretas. O mundo tem 6 meses para confirmar a quarta, mas o caos das eleições americanas deverá ofuscar tudo o resto...
A não ser que um avanço estrondoso na Inteligência Artificial comprometa a democracia americana. Mas isso seria ficção (ou então não, tal como uma tentativa de assassinato a um candidato).
SEGURANÇA SOCIAL
O Fundo de Estabilização precisa de estabilizar
Ou, como não gerir portfólios de ativos financeiros.
Já ouviste falar do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS)?
Então, é um instrumento essencial para a sustentabilidade da Seg… é um fundo de investimento, basicamente. Tal como tu podes ter uma carteira de portfólios com vários ativos financeiros, a Segurança Social (SS) tem um portfólio de investimentos em títulos de dívida, ações, obrigações e outros ativos financeiros.
“Que excelente ideia” - pensas tu - “A SS investe num portfólio diversificado de ativos, gera rendimento e com isso ajuda a pagar as nossas futuras pensões”. E de facto é uma excelente ideia, em teoria.
A composição do FEFSS obedece a regras específicas. Por lei, existe um limite de 50% do capital investido em dívida pública portuguesa, 50% em dívida pública estrangeira, 40% em dívida privada, 25% em ações, 10% em fundos de investimento mistos, 10% em imobiliário e 5% em reserva estratégica. A composição atual do FEFSS é (dados de 02/2024):
E qual é a rendibilidade disto tudo?
Não muita. O desempenho do FEFSS tem vindo a abrandar: a taxa de rendibilidade média dos últimos anos é de apenas 1,95%. Em comparação, a rendibilidade média do S&P500 no mesmo espaço temporal é de 12,67%.
Provavelmente a principal razão para o FEFSS ter uma rendibilidade tão baixa são as limitações à sua gestão. Os limites legais à composição do portfólio restringem as opções de investimento, criando obstáculos artificiais à capacidade do FEFSS alocar os seus recursos financeiros eficazmente.
Por exemplo, o Ministério das Finanças chefiado por Fernando Medina investiu mais de 7,7 mil milhões de euros na aquisição de títulos de dívida portuguesa, para reduzir o défice público abaixo dos 100%. Isto é o equivalente nacional a retirares dinheiro do bolso esquerdo das calças para meteres no bolso direito.
Por estas razões, 70% do património do FEFSS provém de financiamento do Estado, enquanto apenas 30% são receitas geradas pelos seus ativos financeiros.
Rapidinhas
O carro mais popular em Portugal é um Dacia, seguindo-se de um Tesla.
Esta quinta-feira, os CTT anunciaram um novo serviço de subscrição online de certificados de aforro, desde que já tenhas uma conta de aforro aberta.
A agência de rating canadiana DBRS atualizou a perspetiva da dívida pública portuguesa para “positiva”.
A Netflix conquistou mais de oito milhões de novos subscritores no segundo trimestre do ano. A plataforma de streaming também superou as expectativas e gerou receitas de 8,77 mil milhões de euros.
NAUTA DA SEMANA
Indie Campers
A acampar também se lucram milhões!
A Indie Campers, uma empresa portuguesa com um nome já bem conhecido entre os aventureiros de campismo, acaba de arrecadar 35 milhões de euros numa ronda de financiamento. Liderada pela Indico Capital Partners, com a ajuda da Cedrus Capital e GED Ventures, esta injeção de capital visa impulsionar o crescimento e inovação da empresa.
Mas o que faz a Indie Campers? Bem, se gostas de viajar sobre rodas, eles são o teu melhor amigo, oferecendo autocaravanas e campervans de qualidade para aluguer ou venda na América do Norte, Oceânia e Europa.
E porque estão a ser destacados? Porque estão a preparar-se para dominar o mundo das road trips. O fundador, Hugo Oliveira, está mais entusiasmado que um miúdo numa loja de gomas, pronto para contratar os melhores talentos em tecnologia e marketing para acelerar a expansão global.
E quais são os planos futuros? Tornar-se a plataforma número 1 de road trips no mundo, claro! Com uma frota de mais de 7 mil veículos em mais de 20 países, a estrada para o sucesso está bem pavimentada.
RECOMENDAÇÃO
Férias são Férias
Desconectares do trabalho durante as férias revela-se muitas vezes mais difícil do que parece.
Algumas empresas esperam que os funcionários se mantenham ligados, respondam a e-mails ou participem em reuniões para manter o negócio a funcionar normalmente.
No entanto, estudos e comentários que remontam à década de 1910 sublinham que tirar férias - desligares verdadeiramente do trabalho - é essencial para reduzir o esgotamento, aumentar a energia e o empenho e melhorar a saúde e o bem-estar geral, conduzindo, em última análise, a uma produtividade mais consistente.
Então, como é que podes desligar do trabalho durante as férias para colher estes benefícios? Este artigo da HBR oferece cinco dicas para estabelecer limites firmes de uma forma profissional.
Delinear um plano;
Calendarizar o teu tempo de férias;
Avisa que não irás estar presente nas reuniões durante as tuas férias;
Sê firme na tua mensagem out-of-office;
Manda um lembrete final antes das férias.
ABC DO DINHEIRO
Fortune 500
A “Fortune 500” é uma lista anual compilada e publicada pela revista Fortune que classifica as 500 maiores empresas dos EUA por receita total nos respetivos anos fiscais.
A lista inclui empresas públicas, empresas privadas e cooperativas que apresentam declarações financeiras a uma agência governamental.
A classificação baseia-se em várias métricas financeiras, mas principalmente na receita bruta. Estas empresas pertencem a várias indústrias e setores, fornecendo um retrato das empresas mais influentes e economicamente significativas dos Estados Unidos.
Na despedida desta semana queremos desejar-te uma boas férias, se for esse o caso. Que tenhas um merecido (e respeitado) descanso enquanto os teus investimentos se tornam rendimentos! 🏖️🌴🌞
Qualquer feedback construtivo é muito bem vindo em [email protected]!
Memes
As cotações apresentam os resultados semanais dos ativos referenciados. As quatro primeiras são índices que combinam os desempenhos de conjuntos de empresas. O PSI é o índice português, o STOXX600 é o índice das 600 maiores empresas europeias, o S&P500 e o NASDAQ são ambos dos EUA. As seguintes quatro são mercadorias e moedas. EUR/USD é o câmbio entre o euro e o dólar americano, gold é ouro, oil é petróleo bruto e bitcoin é a mais popular criptomoeda (em euros).
As quatro últimas são ações de empresas que tiveram desempenhos notáveis durante a semana. Nesta semana temos AAPL para a Apple, MSFT para a Microsoft, CRWD para a CrowdStrike e NVDA para a NVIDIA.
A nauta é um boletim informativo semanal sobre a atualidade económica, financeira e empresarial, escrita em língua portuguesa. Não é jornalismo nem consultoria financeira, mas uma oportunidade para aprofundares os teus conhecimentos nestes temas e acompanhares o essencial do mundo dos negócios e mercados financeiros.
Escrita por João Ornelas Raínho, Mário de Pinto Balsemão e Nuno Martins.