MERCADOS FINANCEIROS

Praça do Comércio

Tentamos sempre ser politicamente neutros e, sempre que possível, evitamos mencionar política. No entanto, a ligação entre economia e política é por vezes totalmente inevitável.

Olha o caso da França, coisinha sexy:

Estão marcadas eleições legislativas para os dias 30 de Junho e 7 de Julho, após os resultados das eleições europeias, em que o partido do presidente francês Emmanuel Macron, Renaissance, teve apenas 14,6% das intenções de voto, ficando muito aquém dos 31,4% do Rassemblement National de Marine Le Pen, partido de extrema direita.

Política à parte (dentro do possível) - a economia da França está agora em risco!

Para além da queda, ao longo da semana, da bolsa de Paris (ilustrada acima), também o euro tombou em relação ao dólar. É que a França possui a segunda maior economia da Zona Euro e os mercados mostram-se preocupados com a possibilidade real da extrema direita chegar ao poder.

Mas não são só os mercados, já no final de maio a Standard & Poor’s, agência de ratings, diminuiu a classificação do crédito francês, equiparando-o qualitativamente ao crédito português. Agora, a decisão de Macron, ao marcar eleições urgentemente para combater a extrema direita, está a disparar alarmes nas outras agências de rating - a Moody’s avisa que instabilidade política afeta negativamente créditos considerados “estáveis”.

Mais uma vez, 2024 é um ano marcado pelo caos.

Voltas e reviravoltas - a Apple, que tinha sido ultrapassada pela Nvidia, recuperou o seu lugar como segunda empresa mais valiosa no mundo, após anunciar uma parceria com a OpenAI (escrevemos sobre isso há um mês). As ações da Nvidia, que até valorizaram nesta semana, foram finalmente divididas (quem tinha 1 passou a ter 10).

Quem não gostou dos “moves” da Apple foi Elon Musk, que ameaçou banir os dispositivos da Apple dos seus territórios: Tesla, X e SpaceX. O multimilionário acabou a semana da melhor forma, com os acionistas da Tesla a aprovarem, via votos, um pagamento de 56 mil milhões de dólares destinado ao CEO, ele mesmo.

ECONOMIA

O jogo das cadeiras e o futuro da Europa

Após as eleições ao Parlamento Europeu, a liderança da Comissão Europeia está em jogo. Neste xadrez multidimensional travam-se as batalhas que decidirão o futuro da economia europeia e, consequentemente, da sobrevivência da União.

Como escrevemos na edição de ano novo, em 2024 a UE está sujeita a 3 grandes tendências:

• Eleições - ocorreram na semana passada, mais de 300 milhões de eleitores foram chamados às urnas para escolherem 720 eurodeputados;

• Caos - a instabilidade geopolítica aumentará globalmente, pelo menos até as eleições presidenciais americanas (e provavelmente depois também);

• União testada - para além das já referidas eleições, o teste principal é a união no financiamento da Ucrânia.

Dados os resultados das eleições e o caos das mesmas, o teste à UE ficou muito mais complicado… Ora vejamos:

Após as eleições, o Parlamento Europeu virou um pouco mais à direita, com os verdes, socialistas e liberais a cederem lugares. 

Com a viragem mais à direita, a presidente da Comissão Europeia tem o seu cargo em risco. De forma resumida, o Conselho Europeu (composto pelos líderes dos 27 países da UE) nomeia alguém para presidente da Comissão Europeia (CE). A pessoa nomeada tem então de receber, pelo menos, 361 votos dos 720 eurodeputados recentemente eleitos.

Até aqui tudo bem, mas os partidos europeus são complexos e os votos dos eurodeputados são secretos. Consequência? Sim, coisinha sexy, adivinhaste… caos!

A aliança que confirmou a atual presidente da CE - Ursula von der Leyen,  tem agora 406 lugares no parlamento, mas o mais provável é que pelo menos 10% deles recusem a continuação da sua liderança. Ou seja, para a presidente da CE manter o seu lugar terá de negociar e negociar… e negociar!

Nas eleições de 2019 houve uma grande onda verde, que acabou por alavancar o Green Deal, política bandeira da atual presidente da Comissão Europeia. O Green Deal tem como objetivo principal tornar a UE neutra em carbono a partir de 2050, no entanto é desprezado pelas alas mais à direita da coligação de Ursula von der Leyen.

Como tal, a existência do Green Deal está em risco. Espera-se uma atualização, menos ambiciosa de um ponto de vista ambiental e mais competitiva de um ponto de vista industrial.

E é aqui que entra o jogo das cadeiras pois @ próxim@ presidente da Comissão Europeia não precisa de ser candidat@ anunciad@, a própria Ursula von der Leyen não o era, em 2019.

Embora um novo mandato de Ursula von der Leyen seja o desfecho mais previsível, há probabilidades não negligenciáveis de Mario Draghi, antigo líder do Banco Central Europeu (BCE) e primeiro-ministro de Itália, ser o próximo a sentar-se a cobiçada cadeira.

Consequentemente, é na interseção destes dois campeões que será definido o futuro da Europa. Mas então, se Ursula von der Leyen oscila entre a manutenção e/ou atualização do Green Deal, o que propõe Mario Draghi?

1. União de Mercados de Capitais - desde 2017, quando era presidente do BCE, que Mario Draghi propõe um mercado único para o capital na UE. Um mercado de capitais* integrado, como é o caso dos EUA, permitiria mobilizar “mundos e fundos” para financiar o investimento a longo prazo na transição verde e digital;

2. Escalabilidade - através de um mercado de capitais mais integrado, as empresas europeias poderiam alavancar-se em todo o continente, tornando-se assim capazes de competir globalmente;

3. Pseudo-protecionismo - para competir com gigantes como os EUA e China, é necessário aumentar a produtividade da UE que, de acordo com Mario Draghi é mais baixa principalmente nas indústrias tecnológicas. Para tal, é importante aumentar a instalação de energias renováveis (mais baratas) e impedir a penetração de tecnologias estrangeiras e a sequestração geopolítica das cadeias de produção.

Não admira, então, que Mario Draghi tenha sido convidado pela UE para escrever um relatório sobre a competitividade da UE - as ideias estão a convergir. 

O jogo das cadeiras será sempre o jogo das cadeiras, mas o futuro da UE será baseado num mercado de capitais integrado que irá alavancar a transição verde e digital no nosso continente. Ou então não… mas nesse caso como sobreviverá a União?

A ACONTECER

Proto-protecionismo Europeu - A antecipar o relatório da competitividade de Mario Draghi, que será publicado a partir do fim de junho, a Comissão Europeia anunciou que serão aplicadas novas tarifas, até 38%, aos veículos chineses importados para a UE. A política resulta de uma investigação que mostra como os veículos elétricos chineses são subsidiados pelo Estado Chinês.

Francesinhas - A Mistral AI, empresa francesa fundada em 2023, levantou esta semana 600 milhões de euros numa ronda B. A startup sediada em Paris, agora avaliada em 6 mil milhões de dólares, compete com gigantes como a OpenAI e a Anthropic.

Obrigado, Ronaldo! Para além de quebrar o recorde de mais participações em Europeus, Cristiano Ronaldo quebra também recordes nos mercados - o craque madeirense investiu agora na lendária Vista Alegre, líder na porcelana, um total de 17,3 milhões de euros, comprando 10% do grupo. A jogada fica a combinar com o equipamento alternativo da Seleção:

Rapidinhas

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa deve 40 mil euros ao Primeiro Comando da Capital, a maior organização criminosa do Brasil.

Os aeroportortos portugueses continuam a bater recordes - nos primeiros meses de 2024 os números de passageiros e de carga transportada aumentaram 4,8% e 13,8%.

António Costa é visto como o favorito para liderar o Conselho Europeu.

A Reserva Federal manteve os juros inalterados, mas sinalizou que haverá um corte este ano, sendo possível que haja mais um.

Elon Musk diz que os robots Optimus, da Tesla, poderão transformar a empresa num empreendimento de 25 milhões de milhões de dólares.

Ainda Elon Musk: o magnata abandonou o seu processo judicial contra a OpenAI, que alegava a disvirtuação da missão da empresa.

Bill Gates iniciou a construção de um reator nuclear de próxima geração no Wyoming, nos EUA.

Uma empresa mineira norueguesa descobriu o maior depósito de metais raros da Europa, no sudeste da Noruega. Os metais raros são essenciais para vários setores tecnológicos, como na produção de veículos elétricos e de turbinas eólicas.

Há cada vez mais "pais helicóptero" a acompanhar os filhos adultos em entrevistas de emprego, na tentativa de garantir boas oportunidades profissionais para eles. Este comportamento está a levantar preocupações entre especialistas sobre a autonomia dos jovens.

NAUTA DA SEMANA
Wellbeing Warrior

Miguel Regedor, um empreendedor português, está a tornar os alemães mais felizes no trabalho com a sua startup Wellbeing Warrior. Este software já é usado por três mil colaboradores em 10 empresas alemãs, sendo o objetivo expandir para Portugal com uma meta de duplicar o número de utilizadores até 2025.

Com um capital inicial de 50 mil euros, Miguel arrancou com a Wellbeing Warrior na Alemanha, onde trabalha como arquiteto de software, tendo a startup já ganho prémios em Viena e na Startup Braga, onde está incorporada.

O "Wellbeing Warrior" atua como um super gestor de Recursos Humanos, promovendo uma cultura empresarial contemporânea através da comunicação, inclusão e transparência. Este software oferece feedback anónimo, sugestões, coffee breaks online, e programas de mentoria, tudo para aumentar a felicidade e produtividade.

RECOMENDAÇÃO

Como podes melhorar as tuas reuniões (mesmo sem estares no comando)?

A maior parte dos nossos leitores está a começar a sua carreira agora e, apesar de não estarmos a liderar reuniões regularmente, estamos todos a participar ativamente nelas.

Há reuniões para todos os gostos, desde as rápidas e produtivas até às lentas e completamente inúteis (que podiam ter sido um email)… Se queres contribuir para uma melhoria das reuniões, este artigo do Harvard Business Review é perfeito para ti. Mas nós resumimos as três estratégias chave:

1. Sugestão alternativa - útil quando a segurança psicológica da equipa é baixa. Consiste em não explicitar o que está a incomodar, mas antes fazer uma pergunta que pode ajudar a resolver os sentimentos de frustração causados pela reunião.

2. Proposta orientada para uma solução - quando há alguma segurança psicológica no ambiente de trabalho basta mostrar, com uma questão, que resolver uma área problemática iria aumentar a eficiência da reunião.

3. Confronto construtivo - quando o ambiente psicológico é seguro, podes simplesmente falar do problema e propor uma solução, desde que seja construtiva.

ABC DO DINHEIRO
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