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O Colapso dos Mercados Asiáticos
10 de Agosto de 2024
Bom dia, coisinha sexy!
Nesta semana escrevemos sobre o Apocalipse Asiático (nos mercados financeiros), sobre a força da Nvidia e sobre a startup Tuga que é pioneira dos carregamentos elétricos.
Tempo estimado de leitura: 16 minutos.
Vamos lá!
PSI 1,79% | STOXX600 3,32% | S&P500 3,42% | NASDAQ 4,04% |
EUR/USD -0,22% | GOLD -0,90% | OIL 4,00% | BITCOIN 12,07% |
AAPL 8,81% | NVDA 13,80% | TSMC 17,88% | ARM 19,29% |
MERCADOS FINANCEIROS
Praça do Comércio
Uff… outra vez!
Se na semana passada estávamos a 2 pontos percentuais do medo extremo no nosso nauta-ómetro, nesta semana atingimos o pânico. Mas os mercados e as ações até estão verdinhas, como é que isto aconteceu?
Bem, foi uma semana de loucos, a começar pelo apocalipse na Ásia com a Bolsa do Japão a cair 12,4% na segunda-feira, provocando circuit breakers* que colocaram em alerta todos os investidores do planeta. Não vale a pena usar paninhos quentes: tratou-se de um crash, o pior dia para a bolsa japonesa, Nikkei, desde 1987 e desde este julho que a bolsa nipónica caiu 25%.
Claro, como a semana passada terminou quase em pânico, o crash nos primeiros mercados a abrir (afinal o Japão é a terra do sol nascente) provocou uma reação em cadeia à medida que a segunda-feira avançou pelo globo.
A tensão foi insuportável para muitos dos mercados asiáticos - o Sul Coreano Kospi caiu 8,77%, resultando em circuit breakers também. Já a bolsa do Taiwan, a Taiex, caiu 8,4%, o seu pior dia de sempre.
Este crash resultou da acumulação de muitos fatores. Eis um resumo:
O Banco Central Japonês aumentou os juros outra vez, numa tentativa de conter a inflação;
Juros elevados contra os juros “cortados” na Europa e nos EUA fortalecem o yen japonês;
Yen japonês com subidas de valor em relação ao dólar põe em causa as empresas japonesas que dependem de exportações.
A título de exemplo, uma popular estratégia de investimento era pedir dinheiro emprestado no Japão, dados os juros extraordinariamente baixos do yen, converter os fundos em dólares e investir em ações americanas com retornos mais altos. Com o yen a subir 5% em relação ao dólar, num dia, esta estratégia é aniquilada!
Dada a situação - e a propagação do pânico - o crash estava perto de tornar-se global. Quando o dia começou na Europa, os mercados abriram em queda, embora não tão explícita como na Ásia.
O derradeiro teste seriam as bolsas americanas, cujo desempenho horrível na sexta-feira catalisou o crash asiático, e as “pistas” não eram bom agoiro: Warren Buffett, o melhor investidor de todos os tempos, vendeu metade das suas ações na Apple e o Oráculo de Omaha já vendeu 75 mil milhões de dólares das suas posses…
Claro, ninguém sabe o que vai na cabeça do lendário investidor, mas o que importa é que tem 277 mil milhões de dólares “em dinheiro”. Será por proteção ou porque vê uma oportunidade para investir (como saldos após um crash global)?
Para o bem ou para o mal, Warren Buffett tem mais Treasury Bills - ou T-bills, para os amigos - do que a própria Reserva Federal dos EUA.
Então, abria o dia na América e esperavam todos o pior… incluindo o nosso estagiário analista que foi vender as suas ações em pastilhas elásticas - mas os americanos aguentaram e o crash global foi cancelado.
Como manda a máxima do mundo dos mercados financeiros: sê medricas quando os outros são gananciosos e sê ganancios@ quando os outros são medricas!
E foi isso que aconteceu, resumidamente. Com o crash evitado, os investidores recuperaram a confiança nos mercados e após o Banco Central Japonês sinalizar que vai arrefecer os juros, pelo menos até os mercados estabilizarem, tudo acabou bem…
Pelo menos por agora… é que o índice VIX, famoso por quantificar a volatilidade, atingiu o seu máximo desde 2020, que foi quando o mundo acabou. Esta é a era do caos.
EMPRESAS & TECNOLOGIA
O fosso da Nvidia
Sim, a era é do caos… e a rainha é a Nvidia. Mas por quanto tempo?
Se durante a corrida ao ouro no faroeste americano o verdadeiro lucro estava na venda de pás a forasteiros desesperados, na revolução da Inteligência Artificial o lucro está nos chips. É aí que entra a Nvidia, a líder em chips especializados para os atuais modelos da moda como o ChatGPT.
As galinhas dos ovos de ouro da Nvidia são as GPUs (do inglês Graphic Processing Unit) H100 e H200 - os brinquedos mais cobiçados por gigantes como Facebook e Tesla. Mas o que torna estas placas tão desejadas?
Primeiro, vamos falar da arquitetura Hopper, que é o cérebro por trás das H100 e H200. Estas GPUs são projetadas para lidar com modelos de IA gigantescos, aqueles que treinam chatbots inteligentes ou até carros autónomos.
Além disso, a Nvidia não fornece só o hardware, mas também um ecossistema de software que tira o máximo proveito destas GPUs, garantindo que as empresas podem desenvolver as suas inovações de IA mais rápido e de forma mais eficiente.
Aliás, é por esta razão que a Nvidia tem contratado mais engenheiros de software do que de hardware: continuar a desenvolver o software CUDA, que permite usar placas gráficas (normalmente para videojogos) como placas especializadas para minar criptomoedas e treinar IAs!
Este é um dos “fossos” que protege a Nvidia de competição, que dado o potencial deste mercado de infraestrutura de IA, está a começar a surgir: a Groq levantou 640 milhões de dólares para desafiar a liderança da Nvidia no fabrico de chips. Para além da Groq, também a Extropic procura revolucionar este novo mercado, mas com chips que funcionam à base das leis fundamentais da Termodinâmica.
A precisão é tanta, que qualquer ganho de eficiência na computação é valorizado em múltiplos milhões de dólares. As GPUs H100 e H200 da NVIDIA são fabricadas através de um processo complexo que envolve várias etapas de alta tecnologia e precisão. Aqui fica um resumo de como essas poderosas unidades são criadas:
design e prototipagem: tudo começa com o design da arquitetura, neste caso, a Hopper;
fabrico: os chips para as H100 e H200 são fabricados pela TSMC, líder taiwanesa na produção de semicondutores. A TSMC utiliza um processo de fabrico de 5 nanómetros, o que significa que os transístores no chip são incrivelmente pequenos, permitindo uma densidade enorme de componentes em cada chip, aumentando o poder de processamento;
fotolitografia: O processo de fotolitografia é usado para esculpir padrões extremamente minuciosos no wafer de silício, a Nvidia e a TSMC têm feito avanços fantásticos nesta tecnologia, nos limites das leis da física.
A Nvidia tem assim 2 fossos que a protegem de qualquer futura competição: hardware e software. Não há, no momento, competição na área do software. E embora estejam a começar a surgir os primeiros rivais no hardware, a Nvidia não está à espera deles: a sua nova arquitectura já está em desenvolvimento, a Blackwell!
Portanto apesar dos atrasos com as novas placas, do CEO estar a vender ações e da queda das mesmas no último mês (-22,36%)... a Nvidia está cá para ficar e liderar a nova era da computação!
A ACONTECER
Está carregada, está toda carregada!
Lembras-te da Powerdot, aquela “Astro-nauta” que anda carregada de energia (literal e metaforicamente) que destacamos há uns meses? Pois bem, se por acaso tiveste um “curto-circuito” e já não te lembras ou não os conheces, é recomendável dares uma vista de olhos aqui, porque trazemos-te mais informação sobre esta empresa relâmpago.
Nesta semana, a Powerdot garantiu 165 milhões de euros para espalhar mais postos de carregamento de veículos elétricos por toda a Europa, até alcançar 3.100 novos locais até 2026.
A ABN Amro, BNP Paribas, ING, MUFG Bank, Santander e Société Générale foram a powerbank para este acontecimento, num financiamento que está sintonizado com os Princípios de Empréstimo Verde, a Powerdot poderá ligar a ficha – e não vão deixar ninguém a arder... sem bateria, claro.
Rapidinhas
As licenças de atividade de alojamento local vão voltar a ser transmissíveis com a transação do imóvel. Nas zonas de maior pressão, as autarquias passam a ter a decisão sobre as regras de funcionamento.
O imposto Adicional de Solidariedade sobre o Setor Bancário (ASSB) deverá deixar de ser aplicado. Este imposto havia sido criado em 2020 para ajudar a financiar a Segurança Social pressionado com os pagamentos do lay-off e de apoios sociais durante a pandemia.
Qataris, Gregos, Egípcios e Israelitas…não, não é o início de uma anedota. São algumas das nacionalidades dos milionários donos de clubes de futebol em Portugal.
O Reino Unido está a considerar a regulamentação das redes sociais após motins de extrema-direita, motivados por informações falsas na Internet.
O nanossatélite português Aeros MH-1, lançado em março, ganhou o prémio de “Missão do Ano” numa conferência aeroespacial nos EUA.
NAUTA DA SEMANA
Growappy
Da creche para o mundo: Educação Infantil entra no modo Super Mário!
Uma startup portuguesa fundada por três engenheiros do Instituto Superior Técnico, arrecadou 600 mil euros na sua primeira ronda de financiamento, liderada pela Caixa Capital. Esta injeção de capital vai acelerar a expansão internacional da plataforma digital, com especial foco em Espanha.
Quem são? A empresa chama-se Growappy e desenvolveram uma plataforma que facilita a interação entre educadores de infância e famílias, permitindo um acompanhamento diário das crianças através de fotos, vídeos e registos de atividades.
Por que estão a ser destacados? Porque estão gradualmente a contribuir para o desenvolvimento da educação infantil, recorrendo a tecnologia de ponta (i.e., inteligência artificial generativa), e já estão estabelecidos em 7 países.
Quais são os planos futuros? Expandir-se para Espanha, reforçar a equipa de desenvolvimento e adicionar novas funcionalidades à plataforma. A Growappy está pronta para brincar no recreio internacional e, quem sabe, transformar a educação infantil num verdadeiro jogo de crianças!
RECOMENDAÇÃO
Como sobreviver a um crash?
Bethany Garner escreveu um artigo sobre como sobreviver a um crash no mercado de ações que, na nossa opinião, é uma leitura indispensável para ti, especialmente após a recente queda histórica do Nikkei. Estar por dentro desses conceitos deixa-te mais preparado para enfrentar situações parecidas no futuro. Ao aprender sobre diversificação e a importância de manter a calma em tempos de crise, podes construir uma estratégia que faça a diferença entre pânico e prosperidade, enquanto proteges os teus investimentos e capitalizas com as oportunidades que surgem após grandes quedas.
ABC DO DINHEIRO
Circuit Breaker
No contexto dos mercados financeiros, um circuit breaker é uma medida de segurança que pausa temporariamente as negociações quando há quedas, e ascensões, bruscas nos preços das ações. É como um botão de "emergência" que tenta evitar pânico e descontrolo, dando aos investidores um tempo para respirar, analisar a situação e evitar decisões precipitadas que poderiam agravar ainda mais as perdas.
Se esta semana nos ensinou alguma coisa é que independentemente do quão informado estiveres, tens de manter o medo sempre perto de ti. Lembra-te que enquanto a ganância pode ser impulsiva, o medo, quando bem dirigido, pode ser o teu aliado mais valioso, alertando-te dos riscos e ajudando a tomar decisões ajuizadas. Para a semana há mais, coisinha sexy, até lá lembra-te: conhecimento é poder! 🚀
Qualquer feedback construtivo é muito bem vindo em [email protected]!
Memes
*todas, o estagiário está mais preocupado com a volatilidade…
As cotações apresentam os resultados semanais dos ativos referenciados. As quatro primeiras são índices que combinam os desempenhos de conjuntos de empresas. O PSI é o índice português, o STOXX600 é o índice das 600 maiores empresas europeias, o S&P500 e o NASDAQ são ambos dos EUA. As seguintes quatro são mercadorias e moedas. EUR/USD é o câmbio entre o euro e o dólar americano, gold é ouro, oil é petróleo bruto e bitcoin é a mais popular criptomoeda (em euros).
As quatro últimas são ações de empresas que tiveram desempenhos notáveis durante a semana. Nesta semana temos AAPL para a Apple, NVDA para a Nvidia, TSMC para a TSMC e ARM para a ARM.
A nauta é um boletim informativo semanal sobre a atualidade económica, financeira e empresarial, escrita em língua portuguesa. Não é jornalismo nem consultoria financeira, mas uma oportunidade para aprofundares os teus conhecimentos nestes temas e acompanhares o essencial do mundo dos negócios e mercados financeiros.
Escrita por João Ornelas Raínho, Mário de Pinto Balsemão e Nuno Martins.