- nauta
- Posts
- Precisamos Mesmo de um Novo Aeroporto?
Precisamos Mesmo de um Novo Aeroporto?
25 de Maio de 2024
Bom dia, coisinha sexy!
Pedimos desculpa pelo título clickbait-y, mas vamos compensar com uma resposta imediata: sim, precisamos mesmo de um novo aeroporto!
E é por isso que enviámos o nosso estagiário numa investigação profunda, porque nesta semana escrevemos sobre o porquê do novo aeroporto em Alcochete, sobre os novos métodos de pagamento em Portugal e sobre a rivalidade mais inesperada: Scarlett Johansson vs. OpenAI!
Tempo estimado de leitura: 17 minutos.
Vamos lá!
PSI -0,74% | STOXX600 -0,55% | S&P500 -0,32% | NASDAQ 0,70% |
EUR/USD -0,064% | GOLD -4,35% | OIL -2,35% | BITCOIN -3,92% |
NVDA 13,54% | SON 3,96% | EDP -4,74% | GME -11,65% |
MERCADOS FINANCEIROS
Praça do Comércio
Depois de duas semanas marcadas por um verde festivo, a nossa querida bolsa portuguesa voltou a escorregar. Não faz mal, às vezes ganha-se e outras vezes perde-se, não é?
O PSI seguiu a tendência geral europeia, pesando os fracos desempenhos das EDPs e da Altri, que apresentou resultados “desagradáveis” para os investidores da empresa papeleira. Esta sexta-feira o euro fortaleceu em relação dólar após uma executiva do Banco Central Europeu sugerir que as taxas de juro podem finalmente ser cortadas em junho, visto que a inflação está cada vez mais próxima do objetivo dos 2%.
Enquanto na Europa os sinais são mistos, na América continuam os recordes, com o Nasdaq em máximos e o S&P também no roça-roça, este último impulsionado pelos espetaculares resultados da Nvidia. Parece que compensa ser a fábrica das IAs.
Mas nem tudo são boas notícias - uma iminente recessão nos Estados Unidos é cada vez mais “anunciada”, devido ao crédito mais restrito, aumentos das taxas pela Reserva Federal e aumento do desemprego em 19 estados. Pior ainda, morreu o símbolo da Dogecoin, o Shiba Inu Kabuso, lenda da internet. Foram 18 anos sem dúvida felizes.
ECONOMIA
O novo aeroporto - explicado para coisinhas sexy
Com o contínuo aumento da procura no aeroporto de Lisboa, porque é que ainda ninguém pensou em trazer um porta-aviões para o Tejo?
Ah, 1969... estava então Brian Adams a curtir o seu lendário verão quando surgiram as primeiras discussões sobre o novo aeroporto de Lisboa.
Um 25 de Abril e uma crise petrolífera depois, nos anos noventa, estávamos nós (autores da nauta e alguns dos nossos leitores) a nascer e o novo aeroporto ainda estava por fazer. Mas agora, ao fim de 55 anos, lá temos uma decisão que, sim, desta vez é mesmo para ficar (oremos).
Mas então, como é que se decide uma coisa destas?
Não te preocupes, coisinha sexy, o nosso estagiário leu os relatórios da Comissão Técnica Independente (CTI), um grupo composto por especialistas mandatados para realizar uma análise estratégica e multidisciplinar do aumento da capacidade aeroportuária da Região de Lisboa.
Ora vejamos: para além da coordenação geral da CTI, liderada pela pessoa que escreveu o livro sobre Análises Ambientais Estratégicas (literalmente), os pacotes de trabalho abrangeram 6 áreas:
Estudos de procura;
Planeamento aeroportuário;
Acessibilidades;
Ambiente;
Análise económica e financeira;
Análise Jurídica.
Partindo destas áreas temáticas, a CTI executou uma Análise Ambiental Estratégica às múltiplas opções para averiguar a melhor forma de atingir os objetivos da expansão aeroportuária.
Para avaliar as opções, cinco Fatores Críticos para a Decisão (FCD) foram consensualizados:
Segurança Aeronáutica;
Acessibilidade e Território;
Saúde Pública e Viabilidade Ambiental;
Conectividade e Desenvolvimento Económico;
Investimento Público e Modelo de Financiamento.
Agora que já sabes os pacotes de trabalho e os critérios da decisão, resta saber o mais importante... afinal o que é que tinha de ser decidido?
De acordo com a Resolução do Conselho de Ministros que mandatou a CTI, a decisão tinha de responder às seguintes questões:
Como aumentar a capacidade aeroportuária da Região de Lisboa, em modelo dual ou único?
Como evoluir para um hub intercontinental?
Será necessário desativar, ou não, o Aeroporto Humberto Delgado (AHD)?
Para responder a estas questões foram estudadas 8 opções estratégicas dando prioridade ao interesse nacional, a importância para o país, o longo prazo, flexibilidade e escalabilidade da derradeira opção e, por fim, a sustentabilidade.
Com este enquadramento, as respostas às perguntas acima são as seguintes, de acordo com a CTI:
Iniciar com modelo dual (AHD + expansão) com a possibilidade de modelo único no médio e/ou longo prazo (após ser atingida massa crítica na nova infraestrutura).
O modelo único facilitaria a criação de um hub intercontinental, pelo que a evolução de modelo dual para único e hub intercontinental deverá ser conduzida em função da evolução da procura, que deverá ser sistematicamente monitorizada.
Por razões económicas poderá fazer sentido manter em operação o AHD, embora com oferta progressivamente reduzida, até que eventualmente razões ambientais e de saúde pública justifiquem o fecho.
Por fim, as recomendações da CTI são:
Iniciar a infraestrutura com a solução dual baseada no atual AHD ao qual se acrescenta o "novo aeroporto" que deverá atingir no médio/longo prazo massa crítica, tornando-se opção única e eventualmente um hub intercontinental.
Isto deverá ser feito o mais rapidamente possível (cada atraso não só aumenta os custos como também condiciona a futura solução, seja ela qual for). Para tal, a melhor opção é o Campo de Tiro de Alcochete, seguido de Vendas Novas.
Também de acordo com a CTI, não há soluções ideais para o Aeroporto Luís de Camões, mas dado o enquadramento do processo de decisão, Alcochete é a melhor opção. Melhor ainda para o interesse do país, a análise à viabilidade económica indica que a ANA, concessionária atual do AHD, poderá financiar a nova infraestrutura com as taxas aeroportuárias a que tem direito no corrente contrato, pelo que os contribuintes estão "a salvo".
Assim, dada a recomendação da CTI mandatada pelo anterior governo e o respeito dessa recomendação pelo atual governo, a decisão tomada parece ir de encontro aos melhores interesses nacionais e de todos os stakeholders e shareholders* envolvidos.
Mas decidir é uma coisa e executar é outra.
ECONOMIA
Me manda um SPIN?
Lembras-te de quando escrevemos sobre o Pix, a app brasileira que permite fazer pagamentos a partir de um número de telemóvel, inspirado no MB Way? Bem, o Banco de Portugal resolveu trazer o Pix para terras lusitanas.
A partir de junho, os bancos portugueses serão obrigados a disponibilizar gratuitamente o SPIN, um serviço que, tal como o MBWay, vai te permitir transferir dinheiro recorrendo ao número de telemóvel, sem precisares do IBAN da outra pessoa.
A novidade é que poderás fazer transferências para empresas com o SPIN, pois este poderá ser associado ao NIPC da empresa.
“Mas já há muitas empresas que me possibilitam pagar por bens e serviços com o MBWay” - pensas tu, e com razão. Afinal, até o teu IUC podes pagar por MBWay.
A vantagem do SPIN, diz o nosso velho amigo Mário Centeno, é a de que “não se baseia em cartões de pagamento da marca MB, mas sim em contas de pagamento”. O Governador do Banco de Portugal afirma ainda que no futuro vai ser possível usar esta funcionalidade a nível europeu.
Enquanto isso, tem em conta que todas transferências bancárias em Portugal irão passar a incluir a confirmação prévia do beneficiário antes da conclusão da transação. Esta medida visa reduzir fraudes, garantindo que o dinheiro é enviado ao destinatário correto.
A ACONTECER
Querido, mudei (o IMT d)a casa!
Menos de 35 anos à procura de casa em Portugal? Pede isenção antes de pagar!
O governo apresentou uma estratégia habitacional centrada em jovens, propondo isenção de IMT para menores de 35 anos que comprem casas abaixo dos 316 mil euros. Outras isenções incluem residências permanentes abaixo de 97 mil euros e propriedades para restauração, desde que o pedido de isenção seja realizado antes da assinatura de contratos de compra e antes do pagamento do IMT.
Mais vale tarde do que nunca!
Recuperação de tempo de serviço congelado e salário dobrado para professores em topo de carreira:
Os salários de professores no topo da carreira irão duplicar, ultrapassando 2700 euros após acordo através do descongelamento total do tempo de serviço permitirá 91 mil docentes alcancem os escalões mais altos, representando um aumento de 120%, com salários brutos podendo chegar aos 3613 euros brutos. Estima-se um custo de 300 milhões de euros, destacando que o acordo tem uma aplicação universal, isto é, não está limitado apenas aos sindicatos aderentes.
Scarlett Johannson vs. OpenAI?
Não, não é clickbait, é mesmo verdade:
Se na semana passada escrevemos sobre o género Battle Royale, nesta semana voltamos a fazer uma referência cinematográfica - Her, filme em que Scarlett Johannson deu voz a uma IA que acaba por conquistar o coração de Joaquim Phoenix, está a tornar-se real. É que a apresentação do ChatGPT-4o confundiu até a família da atriz, dada a voz semelhante da “robot”… ora, dado que Johannson recusou ser a voz do ChatGPT-4o, esta imitação é no mínimo suspeita:
Rapidinhas
Emigrantes portugueses enviaram 993 milhões de euros em remessas, tendo sido enviados 311 milhões de euros só em março, um aumento de 2.5%.
Banco de Portugal reduziu a sua dívida pública em 3,7 mil milhões de euros em 2023, resultando numa diminuição de 6% no balanço.
Comboios de Portugal (CP) investiu 578 milhões em 16 comboios de alta velocidade.
Presidente da TAP convocado ao Parlamento para explicar prejuízos trimestrais.
UE aprovou primeiras regras mundiais sobre Inteligência Artificial, com leis que abordam os riscos, inovação e direitos fundamentais, com penalidades por infrações e isenções para salvaguardar direitos fundamentais.
NAUTA DA SEMANA
Hefring Marine
Icem as velas, que eles andem aí!
A startup islandesa Hefring Marine, especialista em soluções marítimas inteligentes, captou €2,2 milhões numa ronda de investimento liderada pela Faber, uma empresa de capital de risco sediada em Lisboa.
Mas o que é a Hefring Marine?
É uma deep tech que criou o sistema IMAS, baseado em IA, para otimizar a eficiência e segurança das embarcações. O IMAS obtém e analisa dados das embarcações em tempo real, permitindo otimizar a operação, aumentar a consciência situacional, reduzir o consumo de combustível e emissões, e fornecer informações vitais sobre manutenção.
Porque estamos a destacá-los?
Além do financiamento, a Hefring Marine contribui para a sustentabilidade marítima, reduzindo consumo de combustível e emissões das embarcações. Ademais, destacam-se pela capacidade de atrair investidores, demonstrando a confiança do mercado na tecnologia inovadora e no potencial de crescimento.
Quais são os planos futuros?
Pretendem fortalecer equipas de software, vendas e negócios em Portugal, um país com uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas (ZEE) do mundo e uma frota piscatória que, apesar de ser 11 % inferior à média da UE, continua a esgotar as quotas de peixe.
RECOMENDAÇÃO
4 erros a evitar no teu CV
Se és um dos nossos queridos leitores, então de certeza já questionaste se o teu CV é bom o suficiente. A resposta a isso é complexa, mas ler este artigo do Harvard Business Review, que identifica 4 erros facilmente evitáveis no teu “cadastro” caso tenhas pouca experiência, é um passo na direção certa!
Mas não te preocupes, nós resumimos:
Erro n.º 1 - incluir experiência de trabalho irrelevante: se te estás a candidatar para astronauta, ninguém quererá saber que vendeste limonada com 10 anos.
Erro n.º 2 - adaptar demasiado o CV às candidaturas: perder tempo nunca é bom, especialmente se estás a candidatar-te a uma vaga “comum” como os tenebrosos “project managers”. Se a candidatura é para astronauta, alguma adaptação valerá a pena, sem dúvida.
Erro n.º 3 - personalizar demasiado o CV: é que depois a IA que vai o vai ler, não o vai perceber… né?
Erro n.º 4 - email pouco profissional: não, [email protected], o teu email não tem red flags nenhumas…
ABC DO DINHEIRO
Shareholder/Stakeholder
Estes são dois termos que são muitas vezes confundidos. Mas quais as diferenças entre os dois?
Um stakeholder é qualquer indivíduo ou grupo que tem interesse ou é afetado pelas atividades e decisões de uma empresa. Isso inclui empregados, clientes, fornecedores, comunidades locais, governos, e investidores. Stakeholders podem influenciar ou ser influenciados pela performance e estratégias da empresa.
Um shareholder, ou acionista, é uma pessoa ou entidade que possui ações de uma empresa. Os acionistas são proprietários parciais da empresa e têm direito a uma parte dos lucros, frequentemente na forma de dividendos, além de votar em decisões corporativas importantes.
Exemplo prático: no caso do novo aeroporto Luís de Camões, todos os cidadãos portugueses são stakeholders e a Vinci, dona da ANA (que detém a concessão num complicado e problemático contrato), é shareholder… e por sua vez os acionistas da Vinci também!
Na despedida desta semana queremos agradecer-te a ti, coisinha sexy. Sim, estamos sempre a agradecer… sabemos disso, mas não faz mal. Tu que partilhas a nauta com quem amas, tu és a nossa inspiração - esta foi a última edição de maio e crescemos 80% neste mês. Muito obrigado!
Qualquer feedback construtivo é muito bem vindo em [email protected]!
Memes
Se tiveres atenção às nossas recomendações, talvez seja um pouco mais rápido.
O que vale é que @ ChatGPT-4o pode servir de advogad@ (agora se fará um bom trabalho…).
As cotações apresentam os resultados semanais dos ativos referenciados. As quatro primeiras são índices que combinam os desempenhos de conjuntos de empresas. O PSI é o índice português, o STOXX600 é o índice das 600 maiores empresas europeias, o S&P500 e o NASDAQ são ambos dos EUA. As seguintes quatro são mercadorias e moedas. EUR/USD é o câmbio entre o euro e o dólar americano, gold é ouro, oil é petróleo bruto e bitcoin é a mais popular criptomoeda (em euros).
As quatro últimas são ações de empresas que tiveram desempenhos notáveis durante a semana. Nesta semana temos NVDA para a Nvidia, SON para a Sonae, EDP para a EDP e GME para a GameStop.
A nauta é um boletim informativo semanal sobre a atualidade económica, financeira e empresarial, escrita em língua portuguesa. Não é jornalismo nem consultoria financeira, mas uma oportunidade para aprofundares os teus conhecimentos nestes temas e acompanhares o essencial do mundo dos negócios e mercados financeiros.
Escrita por João Ornelas Raínho, Mário de Pinto Balsemão e Nuno Martins.