MERCADOS FINANCEIROS

Praça do Comércio

Meio ano findado, quem são os estrelas do mercado nestes primeiros 6 meses?

No S&P500 são a Supermicro, a NVIDIA e a Vistra. A primeira é uma das maiores produtoras de servidores de alta performance e eficiência, a segunda é a principal produtora de chips para IA e a terceira é uma das maiores produtoras de eletricidade do planeta, sediada no Texas. As três empresas, cujas ações valorizaram mais de 100% nestes 6 meses, produzem os 3 ingredientes essenciais para o desenvolvimento de Inteligências Artificiais: eletricidade, chips e servidores. Coincidência?

Por outro lado, uma das maiores perdedoras é a Nike, que tombou 28% nos últimos 6 meses. Apesar da estratégia agressiva, que permitiu roubar o contrato de equipamentos da seleção Alemã que a rival Adidas detinha há 70 anos, as vendas continuam a cair, preocupando os investidores.

Quanto a esta semana, fica pautada pela tranquilidade otimista. Após os resultados da primeira volta das eleições francesas o pânico dos investidores foi temporariamente cancelado. Ficamos todos a aguardar os resultados da segunda volta, neste domingo.

Podemos ter perdido contra a França na bola, mas estamos em melhores circunstâncias económicas (relativamente): o FMI vê a nossa economia a crescer cerca de 2% este ano (e a nossa bolsa não está sequestrada pelo caos político). Talvez por isso o fórum do Banco Central Europeu ocorreu em Sintra, onde os líderes da luta contra a inflação mostraram-se contidos, porém otimistas.

Porém nas ações da Tesla houve um salto épico. Apesar da diminuição das vendas a empresa continua combativa (e pode até ter uma carta na manga - IA). Assim, a Tesla continua a disputar o mercado com a chinesa BYD - as guerras dos EVs continuam ao rubro!

HISTÓRIA

Fordlândia - quando as visões colidem com a realidade

Hoje a nauta traz a história da visão utópica de um dos maiores visionários americanos.

Henry Ford não queria ser apenas um fabricante de carros. Tinha a ambição de aperfeiçoar a sociedade, construindo fábricas modernas e aldeias imaculadas. E foi bem-sucedido nesta sua missão em Michigan. Já na selva do Brasil… a história foi outra.

Ford queria ter o seu próprio fornecimento de borracha. Em 1927 decidiu criar uma plantação e uma pequena fábrica na Floresta Amazónica, a Fordlândia. Ford negociou um acordo com o governo brasileiro para a concessão de 10.000 km2 de terra nas margens do Rio Tapajós no estado de Pará. Este acordo isentava Ford de impostos sobre a exportação dos bens produzidos no Brasil em troca de 9% dos lucros, dos quais 7% seriam para o governo brasileiro e os restantes 2% para os municípios locais. Assim, em 1928, Henry Ford fundou a Fordlândia.

Ford cumpriu o compromisso de contratar brasileiros para a maior parte do trabalho, com salários superiores (35 cêntimos por dia) aos que eram oferecidos no Extremo Oriente. Para além do alojamento, comida e cuidados médicos gratuitos, os trabalhadores tinham à sua disposição uma piscina comunitária, um hospital, alfaiates, lojas, restaurantes e sapateiros. À parte da cidade, foi construído um bairro, a Vila Americana, para os funcionários americanos que lá trabalhavam, sendo o único local com água potável.

Contudo, o projeto não começou assim tão bem. Existia um grande choque cultural entre a América mecanizada, os ideais de Ford e a forma como o povo indígena vivia.

Foram impostas regras rigorosas: o álcool, as mulheres e o tabaco eram proibidos dentro da cidade. Ford também tentou impor dietas que considerava adequadas aos trabalhadores, o que gerou descontentamento. Além disso, os trabalhadores eram tratados de forma desumana, sendo obrigados a trabalhar em horas de grande calor e humidade na Floresta Amazónica. Em 1930, os trabalhadores nativos cansaram-se da dieta imposta por Ford e revoltaram-se no refeitório da cidade. Vandalizaram a cidade, destruíram geradores, equipamento de fabrico e até as suas próprias casas.

Outra falha neste projeto dava-se pelo facto de nenhum dos diretores da Ford possuir conhecimentos necessários sobre a agricultura tropical e o cultivo das árvores produtoras de borracha. Estes fatores, aliados às condições do terreno e do clima, levaram à fraca produção de borracha, a qual foi devastada por pragas e doenças. Após finalmente contratar um especialista botânico, foi criada uma segunda plantação em Belterra, nas imediações do território de Henry Ford, para fazer face ao problema da fraca produção da Fordlância. Contudo, no ano seguinte, o botânico foi embora sem avisar e as árvores voltaram a ser infestadas com pragas, dificultando a produção de látex. Apesar de tudo, ambas as plantações persistiram durante quase uma década.

Após a II Guerra Mundial e com o declínio do estado de saúde Ford, a gestão da empresa foi confiada ao seu neto, Henry Ford II. Este vendeu a área das duas cidades ao governo brasileiro, registando um prejuízo de mais de 20 milhões de dólares (equivalente a 338 milhões de dólares em 2023).

O mais irónico, é que apesar do enorme investimento e dos inúmeros convites, Henry Ford nunca visitou nenhuma das suas malfadadas cidades.

Entre as décadas de 1950 e 1970, o Ministério da Agricultura do Brasil instalou várias unidades na área e cedeu as casas dos funcionários da Ford às famílias dos funcionários do governo. Este projeto também falhou e a cidade ficou quase abandonada, com apenas 90 residentes a viver na cidade até ao início dos anos 2000. O aumento da população e a procura de casas, levou ao melhoramento das condições da cidade, sendo que em 2017 residiam cerca de 3000 pessoas. Agora, uma cidade como todas as outras, só o tempo o dirá se os habitantes da Fordlândia irão conseguir ultrapassar o seu passado como sonho utópico, e falhado de Henry Ford.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Como treinar a tua Inteligêcia Artificial?

Há quem diga que é melhor do que treinar um dragão…

Se segues a nauta no Instagram, de certeza que viste as nossas previsões para os resultados do EURO2024. Mas então, a tua querida nauta virou um treinador de bancada tasca com palpites que ninguém pediu? Nada disso, coisinha sexy!

Nós explicamos: a nauta tem como missão oferecer acesso gratuito e descomplicado a informações do mundo económico, empresarial e financeiro. O nosso projeto está sempre em evolução e a mais recente iteração foi um desenvolvimento de uma Inteligência Artificial.

Porquê? Porque ao criar e treinar uma IA, podemos aprender e informar melhor a nossa audiência. Se a IA é o futuro, queremos que os nossos leitores estejam na vanguarda desta revolução.

Claro, nenhum de nós tem um doutoramento em Aprendizagem Automática (do inglês, Machine Learning), pelo que começamos com um projeto simples e ilustrativo - prever os resultados dos jogos do EURO2024.

Eis, passo a passo, como treinar a tua IA:

1. Encontrar e preparar os dados para treinar a IA - no nosso caso optamos pelos dados dos jogos da qualificação para o Europeu;

2. Escolher a linguagem para programar a IA - há muitas opções disponíveis gratuitamente, escolhemos usar Python e a biblioteca TensorFlow, ambas open-source;

3. Escolher o tipo de Aprendizagem Automática - os jogos de futebol têm imensas variáveis que influenciam-se umas às outras (faz parte da magia do desporto rei), pelo que optamos por Redes Neuronais (do inglês Neural Networks) pela sua capacidade de inferir estas relações “impercetíveis”;

4. Escolher os inputs e outputs - todos os modelos têm dados que entram e dados que são obtidos, no nosso caso queremos obter previsões dos resultados dos jogos e para isso vamos introduzir a forma recente das equipas, os seus golos expectáveis e o seu ranking da FIFA;

5. Programar - a parte mais assustadora, não é? Pois fica a saber que o nosso estagiário limitou-se a pedir ao ChatGPT para programar por ele, e resultou mesmo!

6. Treinar o modelo - se tudo correr bem com a programação, a rede neuronal vai aprender automaticamente para melhorar as suas previsões (usando o conjunto de dados inicial para treinar a partir dos inputs e prever os outputs.

7. Usar o modelo para prever os resultados dos jogos!

E pronto, assim se cria uma IA! Mas e este modelo brinquedo presta para alguma coisa? 

Por agora, não está nada mau! Se as casas de apostas acertam 56% das vezes nos favoritos, o nosso modelo está nos 50%, mas acerta nos resultados exatos cerca de 18% das vezes.

Infelizmente, o nosso modelo previu a vitória da França, virando-se contra os seus criadores… Sacre bleu!

A ACONTECER
Protecionismo Europeu 🇪🇺

A UE vai impor tarifas a produtos chineses.

A Comissão Europeia irá impor taxas alfandegárias sobre produtos de baixo custo provenientes de retalhistas online chineses, como a Temu e a Shein. Plataformas como a AliExpress, Temu e SHEIN, têm beneficiado de custos de envio subsidiados, o que tem tornado rentável o envio de produtos de baixo custo por via aérea.

A proposta de Bruxelas sugere a eliminação do limite atual de 150€ que os produtos podem ser importados sem taxas. Esta medida visa combater a subsidiação do Governo chinês à indústria de comercialização de produtos de baixo custo. Contudo, os CTT, que têm registado um forte crescimento na entrega de encomendas, poderão sofrer danos colaterais com esta proposta. 

A Comissão Europeia também pretende impor barreiras à indústria de veículos elétricos chineses, com um imposto adicional de até 25% à taxa existente de 10% sobre as importações. O imposto começa nos 17,4% para os carros da BYD, 19,9% aos da Geely, e 37,6% aos da SAIC.

Além da crescente preocupação com a segurança e qualidade dos produtos importados, estas medidas surgem num período marcado por acusações das empresas europeias sobre a “concorrência desleal” por parte das empresas chinesas, que beneficiam de subsídios estatais desleais, pondo em causa as regras da concorrência.

Rapidinhas

A ministra Maria da Graça Carvalho garantiu que Portugal será compensado por Espanha pela água captada ilegalmente no Alqueva, com um valor estimado de 40 milhões de euros. 

As escolas do Porto vão lecionar literacia financeira do 1º ao 12º ano.

O Ministério das Infraestruturas confirmou que recebeu duas propostas para a construção do troço de alta velocidade Porto-Oiã, as quais serão ainda avaliadas.

A Stellantis (marca que detém a Peugeot, Opel, FIAT e Citroen) vai começar a produzir veículos elétricos numa fábrica em Mangualde a partir de Outubro.

Portugal já submeteu à UE o pedido para receber o quinto pagamento do Plano de Recuperação e Resiliência, no valor de 2,9 mil milhões de euros.

Portugal caiu 5 lugares no ranking de melhores países para estrangeiros viverem. Está agora na 15º posição.

Em França, as grandes superfícies de distribuição alimentar serão obrigadas a informar aos consumidores quando um produto for vítima de “shrinkflation*”.

Espanha irá pagar a Portugal pela água captada ilegalmente na barragem do Alqueva. 

Enquanto Henry Ford inventou a semana de 5 dias de trabalho, a Grécia foi mais longe. Na última segunda-feira, a Grécia adotou a semana de seis dias de trabalho. Esta medida destina-se a empresas que trabalham 24 horas por dia, sete dias por semana ou têm uma carga horária elevada. 

NAUTA DA SEMANA
Musiversal

A Musiversal, uma startup lisboeta a brilhar na fábrica de unicórnios, está a revolucionar a produção musical com a sua plataforma inovadora online para gravações musicais, que facilita o acesso a músicos e produtores de estúdio.

Porque estão em destaque?

Acabaram de angariar 2,8 milhões de euros numa ronda de investimento liderada pela Iberis Capital, com participação da Lince Capital e Shilling. Este financiamento permitirá expandir os seus serviços, incluindo o Musiversal Unlimited, um serviço de subscrição que oferece acesso ilimitado a músicos de sessão, engenheiros de mistura, compositores e produtores por 199 dólares mensais. Este modelo não só simplifica a produção musical, como também democratiza o acesso a serviços de alta qualidade, anteriormente reservados a grandes produções.

Quais são os seus planos futuros?

Planeiam escalar as operações e melhorar a oferta de serviços, incluindo o lançamento de novos serviços anunciados no Musiversal Music Summit, a 27 de julho, com palestras e concertos em Lisboa.

RECOMENDAÇÃO

Estratégias contra o caos

Nos últimos anos, desfrutamos de uma era notavelmente estável com uma geopolítica pacífica, taxas de juro em queda, mercados de crédito em expansão e inflação moderada. 

No entanto, os tempos mudaram e entrámos num período mais volátil, com novas regras e um panorama diferente de oportunidades e riscos.

Neste novo ambiente, é essencial uma nova abordagem à estratégia, que inclua investimentos arrojados em três áreas-chave: previsão, adaptabilidade e resiliência. 

Este artigo da Harvard Business Review fornece orientações sobre a melhor forma de afetar os teus recursos a estas três capacidades para navegar eficazmente nos tempos de mudança.

ABC DO DINHEIRO
Shrinkflation