MERCADOS FINANCEIROS

Praça do Comércio

A inflação está a começar a vacilar - na Europa a inflação atingiu o ponto mais baixo dos últimos 3 anos, para 2,2%, e já há rumores de que o Banco Central Europeu (BCE) pode avançar com mais cortes nos juros (o “primeiro” corte foi em junho).

Relembramos que o objetivo dos bancos centrais, como BCE e a Reserva Federal dos EUA, é manter a inflação nos 2%. Por agora, têm sido dramaticamente eficazes, pois a inflação está a normalizar após atingir um pico de 10,6% em outubro de 2022.

Mas e a tal recessão causada pelo aumento contínuo dos juros (com o objetivo de estabilizar a inflação)?

Boa pergunta. Por agora, nos países desenvolvidos, há poucas falências e o desemprego não aumentou muito, portanto por muitas recessões técnicas que tenham acontecido… ainda não houve nenhuma recessão a sério!

Ao que tudo indica, atingimos a aterragem suave. Mas, como qualquer nauta de qualidade diria, esta pode ser só a calmaria antes da tempestade. Como diz um dos nossos leitores: “olho no fogão!”

Os profetizados cortes nos juros são muito bem vindos e as empresas agradecem. Que o diga a construtora tuga Mota-Engil, que foi a estrela do PSI no ano passado, mas agora está em apuros, tendo já perdido metade do seu valor desde o seu máximo recente. Ouch! Também a Nvidia, estrela mundial dos últimos 2 anos, soluçou. Na terça-feira, a Nvidia perdeu 279 mil milhões de dólares de capitalização, a maior queda da história das bolsas americanas!

De resto, tudo continua igual:

• Milhões e milhões investidos na IA - Ilya Sutskever, antigo cientista-mor da OpenAI, abriu uma nova startup de segurança para a Superinteligência Artificial (nós não sabíamos que sequer existia Inteligência Artificial) e já conseguiu financiamento de mil milhões de dólares!

• As guerras dos carros elétricos fazem mais uma vítima - a Volvo voltou atrás na promessa de só produzir elétricos a partir de 2030!

EMPRESAS

Navegando os ares de uma privatização controversa

A TAP foi mesmo comprada usando o próprio dinheiro da TAP?

A TAP é, discutivelmente, a empresa mais polémica em Portugal. E, por entre as várias polémicas com as quais a TAP nos brindou ao longo dos anos, a sua privatização em 2015 é ainda, um dos processos mais controversos.

“A TAP foi comprada com o seu próprio dinheiro”, foi o chavão de quase todos os média portugueses durante esta semana. Mas, como? O nosso estagiário em engenharia aeronáutica explica-te:

A verdade é simples, mas, ao mesmo tempo, complexa. Simples, porque é fácil perceber que, antes da privatização, a TAP não tinha dinheiro nem para comprar combustível, quanto mais para comprar-se a si própria - um belo oxímoro.

Agora vem a parte complexa. A Inspeção Geral das Finanças (“IGF”) esteve a varrer as contas da TAP e encontrou várias irregularidades, algumas das quais indicou que deveriam seguir para investigação criminal por parte do Ministério Público. Uma destas irregularidades tem a ver com o processo de privatização da TAP em 2015. O IGF concluiu que a privatização foi feita com recurso a um empréstimo da Airbus ao empresário David Neeleman, no valor de 226 milhões de euros, de que a própria companhia aérea apresentou garantia.

Vamos recuar. Em 2015, David Neeleman, líder do consórcio Atlantic Gateway, comprou 61% do capital da TAP, comprometendo-se a financiar a companhia aérea com 226 milhões de euros. No entanto, esses 226 milhões não vieram de Neeleman, mas sim da Airbus. Isto porque Neeleman negociou com a Airbus a compra de 53 aviões por parte da TAP, em contrapartida da cedência de um empréstimo de 226 milhões da Airbus à Atlantic Gateway, dinheiro esse que depois a Atlantic Gateway entregaria à TAP para cumprir a promessa de financiamento. A Airbus ficou com a garantia dada pela TAP que a companhia aérea iria comprar os 53 aviões sob pena de devolver os 226 milhões. 

Ou seja, Neeleman e o seu consórcio arranjaram maneira de cumprir a promessa de financiar a TAP usando dinheiro da… Airbus - o que a fabricante aceitou, tendo como contrapartida a garantia da TAP como esta iria adquirir 53 aviões. É duvidoso? Sim. É ilegal? É isso que o Ministério Público deverá agora apurar.

Resta dizer que o relatório da IGF aponta para outras irregularidades, tais como possíveis fugas de impostos em pagamentos aos membros do Conselho de Administração da TAP, contratos dúbios para serviços de consultoria, e negócios arriscados no Brasil. 

A ACONTECER
A Nova União Europeia

Para a União Europeia sobreviver terá de meter o nosso dinheiro a render.

As chamadas Sete Magníficas, grupo das gigantes tecnológicas americanas que inclui a Apple, a Microsoft, a Google, a Amazon, a Nvidia, a Meta e a Tesla (esta não tem sido assim tão magnífica) valem mais do que as bolsas dos EU27 todas juntas.

O mais bizarro é que o continente Europeu tem alguns tostões aqui e ali: há pelo menos 10 milhões de milhões “parados” em contas de poupança! Para comparação, as Sete Magníficas valem, todas juntas, 15,4 milhões de milhões de dólares.

Ou seja, se os mercados europeus fossem harmonizados e os investimentos em ações (e outros veículos financeiros) facilitados, a Europa podia ter as suas próprias Sete Magníficas. Já discutimos como isso poderia ser alcançado numa edição anterior: União de Mercado de Capitais!

O problema é que, embora seja uma das tendências (e prioridades) da nova Comissão Europeia, harmonizar os investimentos da Grécia e da Alemanha (por exemplo) é mais chato (e menos visível) do que aumentar as tarifas dos Tesla fabricados na China.

Vamos ver o que farão os novos líderes económicos da União.

Rapidinhas

O BCP vendeu as dívidas de 80 milhões (cada) da falida Inapa e da Parkalgar, a promotora do Autódromo do Algarve, tendo como comprador o consórcio da Arrow e CRC.

Os pensionistas vão beneficiar de um duplo “brinde” nos seus rendimentos em outubro, com o suplemento extraordinário nas reformas até 1.527,78 euros e a aplicação das novas tabelas de retenção na fonte de IRS.

O Estado já arrecadou 85% da receita de IRC prevista para este ano, a qual rendeu cerca de 7 mil milhões de euros até julho.

O programa de arrendamento jovem Porta 65 tem novas regras, destacando-se a eliminação da renda máxima como fator de exclusão.

O Benfica teve quase metade (48%) dos ganhos da Liga com transferências, com um saldo positivo em 89 milhões de euros.

Em 2025, os senhorios vão poder aumentar as rendas em 2,5%.

A Rows, startup sediada na UPTEC,conseguiu estender a ronda de investimento inicial, chegando agora aos 9M de euros para dar um update à sua plataforma de folhas de cálculo online e integrar novos serviços.

A Volkswagen pondera encerrar fábricas na Alemanha pela primeira vez em 87 anos, depois do lucro operacional cair para 966 milhões de euros contra os 1.64 mil milhões no ano anterior.

Segundo a Euronews Business, Irlanda, Bulgária, Países Baixos, Suécia e Reino Unido são os países onde os empresários podem ter mais facilidade em lidar com os desafios da criação de uma empresa.

NAUTA DA SEMANA
Manie

100% luz, Sem chatices!

A Manie é uma daquelas startups que entram na nossa vida para resolver problemas que ninguém gosta de enfrentar: os custos de energia. Fundada por antigos responsáveis do ComparaJá, esta jovem empresa portuguesa acaba de angariar 100 mil euros numa ronda pré-seed com a venture capital alemã Heartfelt (ex-APX).

E o que é que eles fazem, perguntas tu?

O verdadeiro trunfo deles chama-se “Autoswitch”, um serviço que faz tudo por ti, mudando automaticamente para o fornecedor de eletricidade mais barato assim que aparece uma oferta melhor. Basicamente, é aquele serviço que todos gostaríamos de ter para evitar as chatices das faturas. Além disso, a startup já tem centenas de clientes em Portugal e quer chegar aos 10 mil até ao final do ano.

E no futuro?

A Manie já tem planos ambiciosos de expandir para Espanha, Itália e França em 2025 e prepara uma nova ronda de investimento acima dos 500 mil euros. Portanto, é só uma questão de tempo até esta solução prática atravessar fronteiras e simplificar a tua vida, enquanto poupas uns trocos para uns tremoços no Arco do Cego, uns finos na Cordoaria, ou uma ponchinha na zona velha no Funchal.

RECOMENDAÇÃO

Não faças a tua escolha apenas com base no salário

O salário é um fator fundamental para comparares ofertas de emprego. No entanto, para além do salário base (que é certamente importante), como podes avaliar se a oferta global - incluindo regalias e benefícios - se adequa às tuas necessidades? É tentador concentrar-se apenas no salário base, mas lembra-te que este é apenas uma parte da equação.

Este artigo da Harvard Business Review ajuda-te a perceber que outros fatores deves considerar, na tua próxima escolha de emprego.

ABC DO DINHEIRO
Privatização