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Orçamento do Estado em Aberto e OpenAI Fechada
28 de Setembro de 2024
Bom dia, coisinha sexy!
Este projeto está quase a fazer um ano, quem diria? Estamos a preparar uma surpresa para outubro, mas por agora fica com esta edição onde discutimos as propostas para o Orçamento do Estado (e como podem influenciar-te) e o fim da OpenAI.
Vamos lá!
PSI 1,19% | STOXX600 2,75% | S&P500 0,50% | NASDAQ 0,78% |
EUR/USD 0,54% | GOLD 1,03% | OIL -4,07% | BITCOIN 2,98% |
TSLA 7,24% | NVIDIA 4,03% | EDP 2,74% | GALP -3,02% |
MERCADOS FINANCEIROS
Praça do Comércio
O ouro continua a bater recordes, a Reserva Federal Americana sorri à inflação de 2,2% (adivinhando-se que sim, a aterragem suave aconteceu mesmo), o Governador do Banco de Portugal declara que a inflação foi vencida e os mercados estão gananciosos, como mostra o nauta-ómetro. Mas há sempre quem seja mais ganancioso, não há?
Ah os mercados financeiros… Haverá coisa mais bela do que a procura, e a perseguição, incessante, pelo lucro?
Bem, as organizações sem fins lucrativos são bastante inspiradoras - e não têm a fome, por vezes nefasta, pelo lucro - olha lá o caso da OpenAI que avançou, exponencialmente, o desenvolvimento e a investigação científica em Inteligência Artificial (IA) resultando num produto histórico, o ChatGPT, que para o bem ou para o mal revolucionou o sector tecnológico…
E… parece que a OpenAI vai virar uma empresa com fins (muito) lucrativos! Ouch!
Não é muito surpreendente: onde há lume, há fogo e onde há lucro, há oportunismo. São máximas universais. E o caso do CEO da OpenAI, Sam Altman, e da própria “empresa”, já foi muito esmiuçado na tua nauta:
a história, o drama e os emails, da fundação da OpenAI (com aparição de Elon Musk), num dos primeiros posts no nosso Instagram;
o plano de Sam Altman para conquistar o mundo;
a nossa edição sobre a Battle Royale da Inteligência Artificial, que documenta a forma como a equipa de segurança em IA, da OpenAI, “abandonou o navio”;
o caso Scarlett Johannson vs. OpenAI, que ilustra as falhas morais da “empresa;
e, finalmente, a nossa previsão da OpenAI eventualmente tornar-se ClosedAI sob o comando de Sam Altman… told ya!
Resumidamente: a OpenAI foi fundada para ser sem fins lucrativos e a sua missão original, sob o comando de Sam Altman, tem sido continuamente desvirtuada (investimento a investimento). Sam Altman é um indivíduo ambicioso e politicamente talentoso, com uma capacidade extraordinária para atrair quantidades absurdas de capital. Para além disso, sobreviveu a um golpe de estado dentro da “empresa” através do ramo com fins lucrativos - entre outros truques políticos - e desde aí tem vindo a consolidar poder, dentro e fora da OpenAI.
Honestamente, não era difícil prever a ClosedAI. Mas vamos lá ver o que realmente está a acontecer:
14 de setembro: surgem rumores de uma nova ronda de investimento na OpenAI, com a Nvidia, a Apple e a Sequoia a juntar-se à Thrive Capital e à Microsoft numa avaliação de 150 mil milhões… e exigindo a transição para empresa lucrativa;
23 de setembro: Sam Altman publica “A Era da Inteligência” onde anuncia uma nova era de prosperidade equitativa baseada na implementação de deep learning à grande escala;
25 de setembro: Mira Murati, CTO da OpenAI, deixa a empresa juntamente com outros dois executivos, somando-se à longa lista de super-estrelas que abandonaram a empresa;
26 de setembro: chegam as primeiras confirmações de que a OpenAI transformar-se-á numa empresa com fins lucrativos, abandonando a sua missão original para tornar-se mais atrativa para os investidores e, pela primeira vez, Sam Altman poderá receber uma percentagem da OpenAI.
Ilya Sutskever, Mira Murati e Greg Brockman eram as caras de OpenAI (atrás de Sam Altman, pelo menos) e afastaram-se (ou foram afastados) da empresa. O poder está todo nas mãos de Sam Altman, que ao abrir as portas a investidores está a capturar o capital necessário para atingir o objetivo final da, em breve, ClosedAI: criar uma super inteligência artificial.
Caiu a parte que dizia: “para o benefício de toda a humanidade.”
FINANÇAS
Rola a bola do Campeonato Orçamental 2025
O Governo tem até 10 de outubro para entregar a proposta do OE 2025 na Assembleia da República.
É agora pessoal. Estamos no início de uma nova época orçamental. Os tubarões do costume já apontam os seus esforços ao título, após uma reentré marcada pela chegada de reforços no mercado de verão. Também os partidos mais pequenos afinam os seus plantéis para tentar fazer frente aos gigantes da assembleia. Todos de olhos postos no prémio mais cobiçado - o Orçamento do Estado 2025. Quem cantará vitória política? E quem será relegado à segunda divisão parlamentar?
Nesta época, o jogo do Orçamento tem uma palavra chave - negociação. Tanto o governo, como a oposição têm um número muito próximo de deputados, pelo que, para ser aprovado, o Orçamento terá de ser discutido e negociado nas salas de reuniões, antes de ser discutido e (esperemos nós) aprovado na Assembleia.
Montenegro já prometeu que a margem negocial do OE2025 será esgotada até ao limite e manifestou-se empenhado em evitar dar instabilidade política, social e económica ao país.
Os maiores pontos de contenção entre PS e PSD são as descidas de impostos. P.N. Santos reiterou que os socialistas rejeitarão qualquer Orçamento que mantenha as descidas no IRC e no IRS. Na verdade, neste jogo de forças, é mais o que une PS e PSD do que os separa. No entanto, ninguém quer ficar a perder - todos querem uma vitória, nem que seja pírrica.
Analisemos então algumas das propostas orçamentais:
Descida do IRC
O Governo propõe reduzir o IRC em dois pontos percentuais para 19% em 2025, e aliviar anualmente as tributações autónomas. Em alternativa, o PS quer melhorar os incentivos fiscais às empresas que subam salários, e dar incentivos à capitalização.
IRS Jovem
O PS rejeita qualquer formulação do IRS Jovem, argumentando que a redução da taxa para 15% para os jovens é ineficaz e injusta.Também existem muitas dúvidas quanto à constitucionalidade desta medida.
Aumento dos salários
As federações sindicais representativas dos trabalhadores da Administração Pública esperam ser recebidas pelo Governo para negociar a atualização geral dos salários do próximo ano antes da entrega da proposta do OE2025. Exigem incrementos remuneratórios de, pelo menos, 6%.
O triplo do que está previsto no acordo plurianual (2%) para a valorização dos trabalhadores do Estado.
No entanto, está em linha com a evolução dos ordenados no Estado, uma vez que a remuneração bruta mensal média dos trabalhadores já está a subir 6,6% este ano. O pacto entre as federações da UGT (Fesap e STE) estabelece aumentos de 52 euros para ordenados até 1.754 euros mensais brutos e de 2% acima daquele montante, até 2026. No entanto, a Frente Comum, da CGTP, ficou fora deste compromisso.
Salário mínimo nacional
Esta quarta-feira, o Governo anunciou que o salário mínimo nacional vai subir para 870 euros em janeiro do próximo ano. Face a esta medida, os escalões de IRS serão atualizados para que haja neutralidade fiscal.
O documento apresentado pelo Governo aos parceiros sociais, aponta ainda para aumentos anuais de 50 euros até 1.020 euros em 2028. Ou seja, o Governo propôs aumentar o salário mínimo para 870 euros em 2025, 920 euros em 2026, 970 euros em 2027 e 1.020 euros em 2028.
Prémios de produtividade
A proposta entregue a sindicatos e empresários contempla prémios de produtividade até 6% da remuneração base do trabalhador, isentos de impostos e contribuições sociais.
Esta medida, que já estava no programa do Governo, é a resposta do Executivo à reivindicação da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) da possibilidade de as empresas procederem a um 15.º pagamento aos trabalhadores, isento dos descontos tradicionais. Contudo, os prémios de produtividade só ficam isentos de IRS se as empresas aumentarem o salário médio em, pelo menos, 4,7%, e tenham sido abrangidas pela negociação coletiva há pelo menos 3 anos.
E se o OE2025 for chumbado?
Caso o OE seja chumbado (e se o Parlamento não for dissolvido) o Governo ficará limitado a gerir a despesa em duodécimos*, coisa que Montenegro já recusou fazer.
Marcelo Rebelo de Sousa, está otimista que a "única solução boa" é ter o OE viabilizado.
O debate na generalidade do OE2025 será marcado nos dias 30 e 31 de outubro, com votação final global prevista para 28 de novembro.
INCÊNDIOS
Medidas de apoio pós incêndios
Os apoios em números €.
Esta quinta-feira, o Governo anunciou um conjunto de medidas de apoio às populações afetadas pelos grandes incêndios.
O Ministério das Finanças irá avançar uma dotação de 100 milhões de euros às comissões de coordenação e desenvolvimento regional, para suportar as despesas mais imediatas no terreno. A verba é um adiantamento dos 500 milhões de euros oriundos dos fundos de coesão europeus que, segundo o Governo, ainda vão demorar a chegar. A implementação destas medidas será acompanhada por um grupo de trabalho criado para essa finalidade.
Para as famílias, foram criados apoios para situações de carência (alimentação, vestuário e alojamento), assistência do Serviço Nacional de Saúde, e isenção de contribuições à Segurança Social.
Quanto à reconstrução ou reabilitação de casas, apenas as habitações permanentes serão alvo destes apoios, as quais serão construídas pelos próprios proprietários ou pelos municípios. O Governo irá financiar a 100% o custo das obras até aos 150 mil euros e em 85% no caso do valor ser excedente.
As empresas afetadas terão acesso a regimes de lay-off simplificado, prorrogação de prazos fiscais e ações de formação para desempregados. Haverá também uma linha de apoio para a reconstrução da capacidade produtiva - máquinas, edifícios ou matérias primas deterioradas ou destruídas, mas com limitações (alertou o Governo).
Os agricultores afetados terão um subsídio especial até 6 mil euros, mesmo que estejam indocumentados. Está também previsto um apoio à substituição de animais e à substituição ou reparação de máquinas e equipamentos agrícolas, assim como de armazéns.
Além destas medidas, também estão incluídas iniciativas para restabelecimento de florestas e infraestruturas danificadas.
Rapidinhas
O Governo propôs um aumento de 60 cêntimos no valor isento de IRS do subsídio de refeição pago em cartão, que passará a estar livre de imposto até ao valor diário de 10,2 euros no próximo ano.
O Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) foi autorizado a investir dois mil milhões em habitação social até 2029, de modo a enfrentar a crise na habitação.
O conselho de ministros aprovou o limite máximo de subscrição de certificados de aforro para 100 mil euros.
Biden anunciou um novo pacote de ajuda à Ucrânia no valor de 7,2 mil milhões de euros.
NAUTA DA SEMANA
Bright Pixel
Investindo em Segurança.
A startup de cibersegurança Tamnoon, sediada em Israel, garantiu um investimento de 12 milhões de dólares em uma rodada Série A liderada pela Bright Pixel, braço de capital de risco da Sonae. Este investimento elevará o financiamento total da Tamnoon para mais de 18 milhões de dólares.
Criada por Idan Perez e Marina Segal, a Tamnoon presta serviços a organizações na América do Norte em setores como seguros e saúde, oferecendo um serviço híbrido que garante remediações eficazes e sem interrupções nas operações comerciais. A startup está comprometida em desenvolver soluções que reduzem a exposição a ameaças na cloud.
Curiosamente, num cenário onde os gastos com segurança na cloud podem crescer 20% em 2024, a Tamnoon posiciona-se como uma solução inovadora que pode atrair o interesse do mercado português, o que talvez justifique a intervenção da Bright Pixel, pertencente ao grupo Sonae, que acabou por criar uma oportunidade relevante de colaboração entre Portugal e Israel no campo da cibersegurança.
RECOMENDAÇÃO
Quais são as armadilhas da liderança?
Antes de iniciares um cargo de liderança, se ele qualquer for, é importante preparas-te para o sucesso. Este artigo da Harvard Business Review nomeia 4 erros comuns que deves evitar.
ABC DO DINHEIRO
Governar em Duodécimos
No contexto de um Orçamento do Estado, "duodécimos" referem-se à prática de dividir o orçamento anual em 12 partes iguais, sendo utilizado quando um novo orçamento ainda não foi aprovado. Mensalmente, o governo pode gastar até um duodécimo do orçamento anterior, garantindo o funcionamento das instituições públicas. Este mecanismo evita a paralisação das finanças do Estado até que o novo orçamento seja votado e aprovado. É um instrumento provisório, utilizado para garantir a continuidade dos serviços públicos.
No adeus da semana, queremos pedir desculpa pelas falhas e lacunas da edição anterior. Para além do erro no nome da ex-Ministra das Finanças e atual Comissária Europeia, o ABC do Dinheiro não foi enviado no email e a mensagem de adeus foi erroneamente referente a Abril. Os erros foram corrigidos na edição online. Tentaremos ser ainda melhores, especialmente no controlo de qualidade. Pela paciência, pela confiança e por tudo o resto, muito obrigado coisinha sexy!
Qualquer feedback construtivo é muito bem vindo em [email protected]!
Memes
As cotações apresentam os resultados semanais dos ativos referenciados. As quatro primeiras são índices que combinam os desempenhos de conjuntos de empresas. O PSI é o índice português, o STOXX600 é o índice das 600 maiores empresas europeias, o S&P500 e o NASDAQ são ambos dos EUA. As seguintes quatro são mercadorias e moedas. EUR/USD é o câmbio entre o euro e o dólar americano, gold é ouro, oil é petróleo bruto e bitcoin é a mais popular criptomoeda (em euros).
As quatro últimas são ações de empresas que tiveram desempenhos notáveis durante a semana. Nesta semana temos TSLA para a Tesla, NVDA para a Nvidia, EDP para a EDP e GALP para a Galp (sim, adivinhaste as duas últimas).
A nauta é um boletim informativo semanal sobre a atualidade económica, financeira e empresarial, escrita em língua portuguesa. Não é jornalismo nem consultoria financeira, mas uma oportunidade para aprofundares os teus conhecimentos nestes temas e acompanhares o essencial do mundo dos negócios e mercados financeiros.
Escrita por João Ornelas Raínho, Mário de Pinto Balsemão e Nuno Martins.